Asfalto lavado. Faixas que correm, correm ao meu encontro, somente para me verem passar. Meus escuros são destemidos. Não temo por nada, e sigo na estrada. Enquanto uma negra fuligem me abraça, eu me enlaço, atraco-me ao vento, meu duto seguro. Como se fora uma fina lâmina, barreira irreal, estendida à minha frente, eu furo a escuridão da noite, até roubando-lhe alguns segredos escondidos. Apertado e limitado por margens infindáveis, não me sinto tão livre. Mesmo cego, ainda confio, e nem penso em parar. O que não vejo apenas passa. É um mundo veloz, de essência volátil. Aqui, somos tão momentâneos que um simples estalo pode nos desligar. Tento aproveitar o tempo para pensar na vida. De susto em susto, a cada besouro que se espatifa, a cada flash que reflete na pista, alterno meus batimentos. E volto a pensar, trocar ideias com a solidão, passageira que me acompanha. Construo planos, versejo e canto. Enquanto passo a mão no meu bloco de rascunhos, bem do lado, arremesso folhas imaginárias pela janela. Voltem para a escuridão desconhecida, minhas sentinelas de papel, e guardem-me a cada passagem.