Éramos quase todos burros e quase todos sábios
Sou de um tempo de dura servil.
Época da roça e sertanejos de mãos calejadas.
Onde doutora, doutor e escola, era mundo distante,
equidistante.
O progresso era lento e a informação quadrada.
Éramos quase todos burros, e quase todos sábios.
Sou de uma época, onde senhor, senhora,
era expressão usada mais que o hábito de escovar os dentes,
com os velhos e velhas, senhores, senhoras, parentes.
Éramos quase todos analfabetos e quase todos convincentes.
Sou dum tempo em que filhos e filhas, não ousava se quer retrucar, quem dirá!
bater, matar.
Éramos quase todos ignorantes e brutos e quase todos mansos, feito carneirinhos.
Eita mundo bruto; Porém admirável.
Mundo, onde papel e caneta tinha pouca valia,
até porque ali, ninguém sabia,
ler e escrever,
mais palavra valia,
e como valia.
Mundo ignorante,
de sertanejos e roceiros tão distante
do progresso
e tão perto da razão.
Éramos quase todos burros, porém,
sábios por demais.
Época em que os casais,
jamais discutiam relação e, mesmo assim,
os casamentos eram duradouros.
Aborto! era palavra que só existia em dicionário, aliás!
bicho desconhecido nas redondezas.
Época onde as famílias se reuniam no terreiro do velho casarão, apenas com a luz da lua e estrelas
e contavam casos,
histórias e estória,
tão rudes,
porém tão sábias,
éramos quase todos simples e todos admiráveis...