ALGUMA COISA
 


-REPUBLICANDO-
            Algum sentimento maternal nasceu de novo. Hoje já é domingo e eu fiquei
 no apartamento do meu filho. Vim na quarta para pagar o aluguel, depois eu
voltaria para os meus interesses e atividades pessoais. Mas fui ficando meio que sem vontade de nada fazer por ele, meio que cansada demais e, devagar fui fazendo isso e aquilo.
            Amanhã vou pensar nisso. Agora, o cansaço e o sono estão me derrubando.
           
            “Alguma coisa acontece no meu coração...
            Quando eu cruzo a Avenida São João...
            Eu vim para aqui e nada existia.
            Na deselegância discreta de suas meninas...
            Ainda não havia Rita Lee... “
 
            “Alguma coisa acontece, chamada realidade...
            Ainda não havia ‘Varandinha’ e a minha mais completa independência
            e com alegria caminhar sozinha!
            Alguma coisa acontece no meu coração!”
            Fui maternal demais! Tentáculos demais eu e filhos enroscamos...
Eu tinha que ter sido só o suficientemente maternal. Mas eu não sabia.
Desculpem filhos por amá-los demais. Eu tinha que ter sido só referencial.
Mas eu não sabia que esta era a função das mães. Quando criancinha, eu
vivia carregada de bonecas de pano nos braços, carregava-as pra cada canto.
Éramos companheiras e eu acho que as amava, éramos inseparáveis.
            Nestes três últimos anos, foi um trabalho duro de examinar cada tentáculo
que era excesso ou inadequado, sofri, duvidei, descobri, entendi e criei dúvidas...
            Valeu, pois perdi a compulsão por qualquer coisa.
            Depressão, se chega, espera passar.
Recuperei a autoestima e voltei a conhecer a alegria que eu tinha esquecido como era.
            E neste retorno aqui, quando meus filhos estão em Berlim, eu amoleço quando os filhos veem o MURO, e se encantam com o BEIJO de KLINT, e eu acho lindo!
             Isto volta a me maternalizar? A me envolver com os OUTROS?  E abandono ou descuido de mim?
Não, não é o que foi isto, é agora, é novo, é conviver.
            “Alguma coisa acontece no meu coração! Laia-laiá-la-lará... Acho “que eu estou cruzando todas as esquinas de São Paulo, com as do Rio, com as esquinas do mundo e de todas as gentes...” Alguma coisa acontece chamada realidade e contemporaneidade, o coração soltando amor por todos e tudo.

Alguma coisa acontece quando eu me encontro comigo mesma.