SENTIMENTO E PENSAMENTO

 
 
Desde há muito venho pegando pontas de conversas dos meus filhos, "que foi, pergunto eu" e eles dizem  " nada, nada, estávamos filosofando".  Ou pequenas ações dúbias que eles acham que não percebo. Coisas que sinto que eu não gostaria de ouvir pela boca deles.
 
  É atroz.
  Com o passar do tempo eu percebo que preciso planejar algum modo de vida de velhice de boa qualidade, e protegida na minha dignidade que a decrepitude conduz.  Em verdade ainda não pensei claro sobre isso, porque não é nada bom pensar nisso. Uma coisa já tratamos entre nós três, preservar a liberdade de cada um. E eles já me confirmaram que não vão me abandonar, quando deles eu depender. Foi mais ou menos um trato de amigos ou filhos e mãe confiantes mutuamente.
 
Coisa incompleta e não confiável. Da parte deles, acho que pensam que durarei muito, por ser insuportável pensar outra coisa.
É coisa que todo velho deve passar. É coisa bem triste. Vai se seguindo e evitando-se pensar e sentir isso.
 
Mas vou falar: Tenho me sentido mais abandonada que em outros tempos. Ao mesmo tempo estou mais independente e com liberta. Mas o que mais sinto é o desejo de ficar junto deles sem eu perder minha liberdade e independência, e eles, igualmente. Um sonho de estarmos juntos numa mesa comendo e papeando despreocupadamente e divertidamente, quanto carinhosamente. Aliás, eu sou assim toda vida, ter a família unida, amorosa e participativa. Tive isso na infância deles, mas nunca terei isso em adultos. E eu mesma os preparei para voarem assim que tivessem suas profissões e vidas próprias. Então é um contraste interior no sentimento, desejo uma coisa e faço e apoio bem o oposto quase, um contrassenso, para bem deles. Só tenho conseguido o insucesso e o distanciamento.
 
 Vou parar, continuo outro dia, isso é estressante.
Cuidar é de manter a auto estima, ou até melhorá-la , para não sucumbir. E a saúde, claro.

Eu tenho tanta coisa a falar que vivo pensando
Outro dia, no aniversário do meu netinho Tomás, lá estava meu neto Marcelo. Botei a mão em seu joelho e disse olhando seu rosto lindo e calmo e deixando aberto todo o meu amor que sinto por ele, bem como o orgulho: _ Você é tão bonito! Sabe, todos na nossa família são bonitos. Meu pai, seu avô era bonito e tinha treze irmãos e todos muito bonitos.
Ele falou de coisas boas e perguntou como vou indo com o computador, meio que oferecendo ajuda se eu precisar...

Daí a pouco foram embora, ele e a mãe dele, que o pai viera buscar.
Continuei com a minha cerveja sentindo o prazer de ter aquele neto tão belo e bom, mas de pouco convívio.

Bebendo e pensando, como faço agora, como se estivesse despedindo