Atirei o pau no gato!
Há algum tempo passado resolvi cantarolar a mais viva cantiga infantil ainda na minha declinante memória. O público era meus filhos, netos e outros parentes muito chegados. Mas o agraciado era meu neto Calebe, de pouco mais de um ano, na época.
Sequer iniciei o segundo verso e me senti fuzilado pelos olhares de todos, no mais completo silêncio. Até meu neto de tenro entendimento parecia compartilhar tal sentimento comunitário. Estanquei! "Que foi gente?... Proibiram essa música?", quis saber. "Bem que deveriam, pela crueldade pela qual passa o gatinho. Mas não é essa a questão. O senhor canta muito engraçado!", falou alguém. "Engraçado nada, era assim mesmo que se cantava no meu tempo de criança...". "Canta de novo, paieee!" pediu um deles com um sorriso maroto de deboche, mesmo. Meio desconfiado reiniciei a "cantiga". Novamente não me deixaram passar do primeiro verso. Mas dessa vez foi uma gargalhada geral que veio a tona. "Pelamordedeus! Que foi que eu disse engraçado?". "Não é 'Atirei o pau no ga -t-o-tó', é 'Atirei o pau no ga-tó-tó". "Sério? Pois e cantei a minha vida toda assim... Será que não foi alguma mutação que essa músiquinha sofreu ao longo dos anos?". Aí "alguém que não apanha mais" gargalhou: "Não é bem a 'musiquinha' que tá sofrendo mutações..."
Desde esse dia tenho vasculhado na internet algum video, MP3, ou outra midia alguma coisa para provar minha inocência... Mas tá difícl! Por via das dúvidas, tal como se faz nas transações sob júdice quando o devedor deposita o valor questionado em juízo, também não tenho cantado nem de uma forma ou de outra a melancólica cantiga!