Religião sob o luar
(...)
Da imensa janela em uma construção maciça em alvenaria, a garota tragava seu último cigarro antes de adormecer num eterno repouso. Admirava não somente a exuberância das construções humanas, como a transcendente beleza celeste da inteligência que delineou os traços universais. Instigada pela sutileza dos homens em justificar tamanhas grandiosidades com coisas abstratas, questionava-se constantemente sobre quais as condições da vitalidade humana quando pré-disposta as crenças desordeiras. Ou como o homem pudera criar tamanhas estruturas com sua revogável inteligência. Era tão incomum, nos dias em que vivia, habituar-se à funcionalidade humana - além das básicas motoras que sugestionavam crises hipotéticas entre o poder, o domínio, o dinheiro e os luxos que são dispostos aqueles que com seu poder aquisitivo elevado podem desfrutar.
Fitava a lua e sua dependência fosca. As montanhas que circundavam todo o território do município chamavam-na a atenção. Quisera naquele exato momento ter um telescópio para admirar a imensidão universal. Cada tragada fazia-lhe sair do chão, sobrevoar as terras mais longínquas que sua imaginação pudera lhe direcionar. Ia para Nárnia em seu guarda-roupa amarelado e passeava dentre as colinas uivantes. Encontrava-se com os chapeleiros, os lobos maus, os bruxos e elfos. Cabia em seus inúmeros mundos, perdia-se dentre os literários no subconsciente de suas neuras cerebrais. Acompanhada daquele resplendor magnífico - intensificava sua vitalidade. Sentia-se livre, totalmente preparada para soltar suas amarras e partir, para qualquer lugar que lhe fosse plausível. Queria viajar entre os universos e imensidões que desconhecia. Sobretudo guerrilhar, até onde lhe aprouvera.
O que a jovem não inferiu, fora que seus sonhos declinariam no instante em que os mundos desmoronassem. E isso não se estenderia muito. O tempo percorria seus esboços, enquanto a advertência finale* estava por vir. Todos os malogrados seriam causados pelas propriedades que desordenam os passos da malevolência humana, da estruturação física e química dos universos, das psiques humanas, dos mistérios inabaláveis da precariedade antropológica e principalmente, das doutrinas em fervor que acometiam todos os povos, causando o principal mal de toda a terra. Para ela, as difusões religiosas só prejudicaram o amanhecer das cores nos dias, pois partilharam as guerras cristãs ao invés da paz espiritual. De fato, não se enganava. A fé é benéfica até quando o homem não passa a utilizar de seus devaneios para a aquisição de bens matérias e supérfluos. Outrora, se ela ao menos explicasse as lacunas que deixa impregnada em sua empreitada, teria uma valia majestosa comparando-a com as demais crenças que os homens se submetem. A proposição elevada, é que neste caso, a fé religiosa apenas expande seus números, fragmentando apenas determinados universos controlados e incontestáveis pelos olhos curiosos. É baseada, sobretudo, em contradições e dogmas que não coincidem fielmente com o intuito da razão pensante. Desvencilha a verdade, para sobreviver em meio ao mito.
(...)