Invasão de Território
Na noite do último sábado, o engenheiro Gil Augusto Gomes foi alvejado, ao que parece dentro do seu carro, ao dirigir-se ao Aeroporto Antônio Carlos Jobim. Ao receber telefonema de sua esposa dizendo que não era mais necessário que ele a buscasse, pois ela já estava dentro de um táxi de volta à casa, o engenheiro entrou na Comunidade Vila do João, no Complexo da Maré, ao sair da Linha Amarela, imaginando que por ali haveria um retorno. Foi então alvo das forças de segurança daquele território, levando um tiro na cabeça. Encontra-se hoje (10/06) hospitalizado em estado grave.
Vale lembrar que o mesmo aconteceu com torcedores do Santos que retornavam a São Paulo após o jogo com o Botafogo em 1995. Na Avenida Brasil eles erraram o caminho e foram parar também na Vila do João, onde foram cercados por traficantes. Um dos torcedores foi morto e os outros três ficaram feridos.
Em 18 anos, portanto, nada mudou. Ou melhor, mudou, sim. Hoje o armamento existente dentro da comunidade é bem maior que há 18 anos, a julgar pelas declarações nos jornais de um policial que não se identificou: “Ali dentro, para resgatar seja quem for, inclusive um PM, só com um blindado. É muito fuzil que tem lá dentro”.
As divisas ou fronteiras, com o resto da cidade, de comunidades como a da Vila do João, são talvez mais policiadas, à noite, do que as fronteiras do Brasil com os países que lhe são limítrofes. Isto é, configura-se como uma invasão de território o ingresso, principalmente de carro, a comunidades como essa ou outras do tipo no Rio de Janeiro. Implicando esse ingresso em risco de vida nessas circunstâncias.
Durante o dia, na maior parte da cidade do Rio de Janeiro, as pessoas estão sob certa proteção/fiscalização das forças convencionais de segurança (polícia civil, polícia militar, guarda civil, etc.). À noite, a nossa penetração, a pé ou de carro, na maior parte das áreas identificadas como comunidades carentes, sob a fiscalização de forças não convencionais, vai depender do comando a que essas forças estejam subordinadas.
Compete, portanto, a nós cariocas conhecermos os lugares por onde podemos andar à noite. E a órgãos como a CET-RIO (Companhia de Engenharia do Tráfego do Rio) exigir que concessionárias como a LAMSA (Linha Amarela) melhorem a sinalização vertical da via expressa, e de seus acessos, sob sua manutenção. Para que os usuários, cariocas ou não, não errem o caminho e se deparem de repente numa favela ou comunidade carente onde, à noite, não é permitido o ingresso de qualquer um. Independente de existir ou não uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Rio, 10/06/2013