A LIÇÃO DO GOLEIRO
Certa vez, não me lembro quando, li em um livro um ensinamento de um Mestre da Sabedoria. Dizia ele que “todos os acontecimentos que nos rodeiam, por piores ou mais trágicos que nos pareçam, sempre terão algo de importante que nos sirva de lição”.
No momento estamos às voltas da lamentável situação em que se encontram o goleiro do mais querido time de futebol do país e as pessoas diretamente envolvidas no drama.
Não é necessário que discorramos, aqui, sobre os detalhes do ocorrido, pois a mídia se encarregou de insistir neles escancaradamente.
O que podemos nós extrair, de imediato, dessa situação lastimável?
Que lição importante é possível lograr?
Olhos e ouvidos atentos poderão nos levar para algumas nuances das investigações policiais que compõem o processo criminal que a Polícia, o Ministério Público e outras agências governamentais estão encetando.
Quero referir-me ao aparentemente inocente telefone celular.
Sim! É isso mesmo! Telefone celular! Aparelho móvel de comunicações que permite a cada indivíduo contatar com quem e quando desejar, sem maiores complicações.
O aparelhinho incontestavelmente faz parte do modismo da atual geração e tudo indica que a sua presença, a cada vez mais, será simbiótica e influente nos seus caminhos futuros. O celular, instrumento produzido pela “tecnologia de ponta” veio para ficar definitivamente em nossas vidas.
São diversas as utilidades que oferece ao portador e, a cada dia, os fabricantes se esmeram na competição introduzindo inovações que, inocentemente, complicam mais ainda, os “manuais do usuário”.
Na grande maioria das vezes, a cultura geral não permite a compreensão dos termos e procedimentos accessíveis às programações disponíveis ficando, o feliz comprador, restrito a poucos desses recursos.
O celular serve para ver a novela, ouvir música, gravar sons, fotografar, fazer contas, filmar, jogar, despertar, agendar, dentre outras coisas e, secundariamente, para falar e ouvir...
O falar parece ser o ponto crucial quando consideramos a totalidade das comunicações que trafegam a cada minuto. A qualquer momento do dia ou da noite, em qualquer lugar e hora, sempre há alguém com um celular colado ao ouvido.
Na esteira do falar e ouvir é verdadeiramente fantástica a quantidade de informações que trafegam pelas ondas hertzianas cruzando o éter em todas as direções possíveis e imagináveis.
Mas, será possível estabelecer algum tipo de quantificação sobre a “qualidade ou a importância real” do que se fala e do que se ouve? Qual o limite entre a necessidade, a utilidade, a frivolidade e o sem sentido? O que mais poderíamos encontrar oculto nessa maravilha tecnológica guindada à posição de ícone da sociedade de consumo?
Mas, o que tem o celular com o “caso” do goleiro? Perguntaria alguém.
O goleiro foi citado aqui, apenas, como um ponto de partida para as considerações que encetamos. No entanto elas podem se expandir para outras situações iguais ou distintas dessa. Por exemplo, o envolvimento do ex-policial militar e advogado com o desaparecimento de uma ex-namorada!
Ambos os casos estão conectados ao lado oculto dessa maravilha da eletrônica, por um liame que passa despercebido pelo mortal comum que, sem saber, está metido em um “BBB” sem tamanho!
Sim! “BBB”! O programa que leva esse nome, nada mais é do que uma caricatura da ironia midiática para dizer ao indivíduo difuso nas massas que “ele mesmo”, na realidade, não deixa de ser um ator no grande “BBB” da vida.
O que o cidadão não sabe, ou nem desconfia, é que “ele” está sendo permanentemente vigiado e que, quase todas as suas atitudes estão sendo observadas e monitoradas por alguma organização ou por alguém, com a possibilidade de levantar seu endereço, nome, identificação e localização no momento da conexão.
O que o cidadão não sabe, ou nem desconfia, é que várias instâncias do governo e do sistema econômico o mantém sob visada através dos recursos da tecnologia e, em especial do celular, sob rígido controle.
Voltando ao goleiro, apesar das negativas e da interferência criminosa de advogados que procuraram, a todo o custo, desprestigiar o trabalho investigativo, foi o celular do acusado o fornecedor de provas importantes que o incriminaram.
Foi o celular que denunciou onde, quando e com quem o goleiro falou e, isso, desmascarou respostas falsas ou mentirosas, prestadas por ele, por indução dos advogados solertes, durante o interrogatório na polícia.
Na mesma situação se encontra, agora, o ex-policial militar envolvido em crime paralelo. Igualmente, é um celular que o desmascara e que revela às autoridades investigativas onde se encontrava e por onde andava em determinados momentos-chave da perpetração criminosa derrubando seu álibi.
São os celulares que estão fortalecendo as suspeitas, tanto sobre os acusados, quanto os demais agentes desses dois casos que agitam o noticiário nacional...
Sim! Essa é uma pequena amostra do quanto vivemos, como atores, num gigantesco “Reality Show”. Lamentável é que a grande maioria das pessoas não atente para esse fato real. Assim, fica fácil ao “Grande Irmão” prosseguir no seu processo de dominação geral iludindo através da oferta de “avanços tecnológicos” e de “almoço grátis”.
Quando nos referimos a “almoço grátis”, queremos nos referir à quantidade de benesses que nos oferecem através dos instrumentos da Informática. Dentre eles, estão as páginas, portais, provedores, links e todas as armadilhas que, aparentemente inocentes, oferecem facilidades de navegação gratuitas.
Ora! Quem é que pensa o quanto custa, em termos de investimentos, para a criação de todas essas “atrações” para que, “gentil e gratuitamente”, o João das Couves possa, no cantinho do seu quarto, deliciar-se com a troca de e-mails, de fotos, de música, disso ou daquilo, pela Internet? Almoço de graça?
Naturalmente, os custos para o desenvolvimento e manutenção desses atrativos na Rede, certamente, serão devolvidos em termos de lucro e esse lucro pode ser o “controle” sobre o incauto usuário que, para aderir, tem que se “cadastrar ou abrir uma conta”.
É nesse “cadastro” que ficam registrados os seus dados pessoais, bem como o IP do seu computador. A partir daí, quem é que garante a sua privacidade? Como fica a incolumidade da sua própria individualidade? Quem fica com esses dados e que utilização faz deles?
A propaganda indesejável que aparece na tela do seu computador já é um modesto resultado da manipulação, por estranhos, dos dados que você mesmo forneceu ávido pela distração ou “utilidade” que a gratuidade informática lhe presenteou...
Através da inocente conversação, ou “bate-papo”, nos textos escritos ou enviados por e-mail, ficam registradas palavras-chave que podem identificar a ideologia, o tipo de crítica, as preferências, as tendências, traços de caráter, personalidade e outros ingredientes particulares que poderão ser armazenados para uso posterior, se considerados necessários e sem que se saiba disso...
Juntando a armadilha do celular, exemplificada na complicação do goleiro e do ex-policial militar, a outros mecanismos de controle aos quais somos submetidos, à nossa revelia, ficamos, a cada dia, mais tolhidos e vigiados em nossos movimentos.
Câmeras nas ruas, nas lojas, nos prédios, nos bancos, nos elevadores, nos corredores e portarias, nas repartições. Porteiros e seguranças ostensivos ou ocultos nos observam e colhem nossos dados ou identificação para que tenhamos acesso a esse ou àquele lugar.
Nas estradas, somos vigiados pelos “pardais”. Nas agências bancárias, há vigilantes armados, com a mão no coldre, vendo cada correntista como um marginal potencial... A porta giratória investiga seus bolsos e “dá o serviço”.
Junte-se a isso tudo a manipulação do governo e do sistema econômico com os dados do seu CPF, Carteira de Identidade, CNH, Título de Eleitor, IPVA, Nota Fiscal Premiada, CPF na Nota, etc... e veja quanto há de controle sobre cada cidadão.
Finalmente, a associação governo-sistema econômico fecha o circuito da dominação. O Cartão de Crédito e a Conta-Corrente mostram as preferências do usuário. O que ele compra, onde, como e quanto gasta e, principalmente, quanto e como ganha o que deposita em sua conta bancária.
Os mecanismos da Receita Federal são o que há de mais perfeito no controle social, implicando a cada dia, em maior quantidade de valores recolhidos em impostos e multas.
Para o próximo ano, o governo lançará uma nova Carteira de Identidade que concentrará essas e outras informações do cidadão e o CONTRAN cuidará de instituir a obrigatoriedade da aplicação de um “chip” em todos os veículos em circulação no país, que serão monitorados por GPS, via satélite.
O engodo é que tal providência auxiliará as investigações e localização de veículos furtados ou roubados. Mas, com um mecanismo desses, se o governo quiser localizar o Zé das Couves, basta saber onde está o carro dele, pois, certamente, o Zé estará por perto...
Todas essas patranhas impostas ao indivíduo apontam, claramente, para um processo de controle coletivo que poderá ser arrematado com a implantação oficial do “Projeto Mondex”. Quanto a esse, deixo por conta do leitor a investigação. Trata-se da abreviatura de “Money Dexter”, ou seja “Dinheiro na Mão Direita”...
Enfim, não é só o goleiro. Todos estamos enredados nessa teia controladora e o “Grande Irmão” nos vigia até quando dormimos. Não bastasse isso, ainda ri da nossa apática mansidão: “Sorria! Você está sendo filmado!’...