Oportunidade para vencer na vida

Quando vejo e ouço os técnicos em educação e muitos doutores "forjados nas coxas", falarem que os marginais menores são assim por falta de oportunidades, eu penso em mim mesmo e minha família. As oportunidades não existirão nunca, caso não tenhamos arraigada a vontade de crescer e lutar.

Nunca conheci um avô, para ir ao seu sítio e comer os bolinhos de chuva da vovó; não sei se primos existem ou se é invenção; tios, ouvi falar que são os irmãos do pai e da mãe; quando eu era pequeno, não sei porque, os vizinhos me olhavam com nojo. Acho que foi por falta de banho. Morava a seis Km da usina hidrelétrica e nunca vi luz elétrica em minha casa enquanto lá eu morava.

Pai... Nunca trocamos sequer uma palavra de carinho, eu era criança e fiquei sem isso e precisava muito; a mãe, diante das circunstâncias e da quantidade de famintos quase a morrer, espancava, dava bofetões e surras, mas depois entendi as suas razões; muita responsabilidade nas mãos frágeis de uma mulher maravilhosamente fiel a todos os princípios.

Na escola eu, eu sofria todo tipo de humilhação, pois todo subnutrido é feio por natureza, me faltava coragem para erguer a cabeça e encarar as pessoas, tinha clara noção da minha invalidez social. Trabalhei tanto dos sete aos dezesseis anos, tinha vergonha das meninas que eram sempre muito lindas; achava que nenhuma delas nunca ia me querer e sofria muito por gostar tanto delas. Com muito trabalho consegui ajudar a amenizar o sofrimento e a fome dos menores que eu, e já eram pelo menos oito; mas quando comecei a crescer e me tornar homem, meu pai já estava tomado pelo vício do álcool e não tinha limites para a violência. Infelizmente tive que ir embora de casa. Só Deus sabe a falta que me fez uma mão amiga e experiente para me nortear nas decisões difíceis em tempos de um Brasil governado a la "Esparta". Eu era um Ateniense ideológico e morri assassinado várias vezes.

Uma coisa que nos salvou foi a religiosidade da minha mãe, ela, depois de um dia em que ninguém havia comido, às vazes até mais que dois dias de fome, nos reunia e agradecia a Deus à sua maneira. Éramos um pelotão de... Nem sei, acho que uns Quatorze. Hoje, apesar dos pesares,todos nós somos alguém na vida. Graças à D. Maria (Saudades) e ao sistema educacional que funcionava. Apenas um desencaminhou e foi assassinado enquanto assaltava em São Paulo; mas imagine, de quatorze treze vingaram, é uma média muita boa.

Obs. Não tenho nada a reclamar do sistema educacional, embora fosse um tanto quanto espartano e seguia as normas da Ditadura Militar.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 10/06/2013
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