Peixe fora d’água
Você já se sentiu assim, como um peixe fora d’água? Eu já. Que sensação estranha!
Noutro dia, fui ao aniversário de uma amiga e lá encontrei outras velhas amigas de trabalho. A maioria professoras como eu, porém, elas ainda estão na ativa.
No primeiro momento, tudo bem, tudo ótimo: “Oi, como vai você?”, “Querida, que saudade!”, “Nossa, como você está bonita!”, “Você também está ótima!”, aquela rasgação de seda toda, principalmente comigo, pois fazia muito tempo que não as encontrava.
A coisa começou a ficar estranha quando elas passaram a conversar sobre escola. Não é novidade que professores quando se encontram só falam sobre isso. Mas já faz sete anos que eu estou aposentada, portanto, em sete anos muitas coisas mudaram. Inclusive eu. Não conheço mais esse mundo. Descobri outros.
As comidas e bebidas iam passando, e elas falando, falando, falando e eu, ouvindo. Só. São tantos nomes novos (de pessoas), são tantas práticas novas, são tantos problemas novos. Algumas queixas são velhas: salários baixos, nenhuma valorização, condições de trabalho péssimas. Isso pelo menos eu conheço (ou conhecia). De vez em quando, eu morta de vergonha e me sentindo uma ignorante total, perguntava à amiga ao lado: “Do que elas estão falando?” ou “O que significa isso?”. Gente, é tanta sigla, é tanto código e são tantas as exigências a cumprir que não sei como elas dão conta. No meu tempo (ai, que coisa antiga!), já era complicado dar conta da sobrecarga de trabalho, agora parece que a coisa piorou muito.
Algumas, até com certa inveja de mim, disseram que não veem a hora de a aposentadoria chegar. Outras, umas poucas, ainda com aquela garra, idealistas, acreditando que ainda podem fazer muito pelos alunos, que podem contribuir para uma educação de qualidade. Admiro-as por isso. Acho que cada um deve fazer a sua parte, dar o melhor de si, independente de qualquer coisa. Só acho que a tal qualidade em que elas acreditam está tão distante da realidade. Desde quando os governos se empenham de verdade para promover educação pública de qualidade? Se estivéssemos na Suíça, Noruega ou Dinamarca, ainda vá lá. Mas isso aqui é Brasil. Reconheço que pode ter havido uma melhora nos últimos anos, principalmente no acesso às universidades e coisa e tal. Porém, até que nosso país apresente um nível de ensino como o dos países desenvolvidos, vai demorar. Ô se vai. Nesse caso, o peixe fora d’água não sou eu, é o Brasil.
Apesar de meu estranhamento foi uma noite muito agradável. É sempre bom rever pessoas de quem a gente gosta, ainda que elas estejam tão diferentes. Ou será que a diferente sou eu? É provável que sim, afinal quem estava fora do contexto era eu. Mas daqui a pouco elas irão se aposentar também e então poderemos falar a mesma língua: o aposentadonês. Aí, não vai faltar assunto. Algumas irão preferir falar de depressão, hipertensão, reumatismo, osteoporose. Já outras, como eu, preferirão falar de livros, música, filmes, viagens, artes, esportes, relacionamentos e tantos outros papos agradáveis. Só não vamos falar mais de escola. Disso eu tenho certeza.
Noutro dia, fui ao aniversário de uma amiga e lá encontrei outras velhas amigas de trabalho. A maioria professoras como eu, porém, elas ainda estão na ativa.
No primeiro momento, tudo bem, tudo ótimo: “Oi, como vai você?”, “Querida, que saudade!”, “Nossa, como você está bonita!”, “Você também está ótima!”, aquela rasgação de seda toda, principalmente comigo, pois fazia muito tempo que não as encontrava.
A coisa começou a ficar estranha quando elas passaram a conversar sobre escola. Não é novidade que professores quando se encontram só falam sobre isso. Mas já faz sete anos que eu estou aposentada, portanto, em sete anos muitas coisas mudaram. Inclusive eu. Não conheço mais esse mundo. Descobri outros.
As comidas e bebidas iam passando, e elas falando, falando, falando e eu, ouvindo. Só. São tantos nomes novos (de pessoas), são tantas práticas novas, são tantos problemas novos. Algumas queixas são velhas: salários baixos, nenhuma valorização, condições de trabalho péssimas. Isso pelo menos eu conheço (ou conhecia). De vez em quando, eu morta de vergonha e me sentindo uma ignorante total, perguntava à amiga ao lado: “Do que elas estão falando?” ou “O que significa isso?”. Gente, é tanta sigla, é tanto código e são tantas as exigências a cumprir que não sei como elas dão conta. No meu tempo (ai, que coisa antiga!), já era complicado dar conta da sobrecarga de trabalho, agora parece que a coisa piorou muito.
Algumas, até com certa inveja de mim, disseram que não veem a hora de a aposentadoria chegar. Outras, umas poucas, ainda com aquela garra, idealistas, acreditando que ainda podem fazer muito pelos alunos, que podem contribuir para uma educação de qualidade. Admiro-as por isso. Acho que cada um deve fazer a sua parte, dar o melhor de si, independente de qualquer coisa. Só acho que a tal qualidade em que elas acreditam está tão distante da realidade. Desde quando os governos se empenham de verdade para promover educação pública de qualidade? Se estivéssemos na Suíça, Noruega ou Dinamarca, ainda vá lá. Mas isso aqui é Brasil. Reconheço que pode ter havido uma melhora nos últimos anos, principalmente no acesso às universidades e coisa e tal. Porém, até que nosso país apresente um nível de ensino como o dos países desenvolvidos, vai demorar. Ô se vai. Nesse caso, o peixe fora d’água não sou eu, é o Brasil.
Apesar de meu estranhamento foi uma noite muito agradável. É sempre bom rever pessoas de quem a gente gosta, ainda que elas estejam tão diferentes. Ou será que a diferente sou eu? É provável que sim, afinal quem estava fora do contexto era eu. Mas daqui a pouco elas irão se aposentar também e então poderemos falar a mesma língua: o aposentadonês. Aí, não vai faltar assunto. Algumas irão preferir falar de depressão, hipertensão, reumatismo, osteoporose. Já outras, como eu, preferirão falar de livros, música, filmes, viagens, artes, esportes, relacionamentos e tantos outros papos agradáveis. Só não vamos falar mais de escola. Disso eu tenho certeza.