DE QUASE NADA AO... INFINITO !

DE QUASE NADA AO... INFINITO !

Ninguém ignora que Governo e Prefeituras só se

propõem apoiar promoções de porte, atividades

que envolvam as massas, como o futebol, o

carnaval, forrós, folias, micaretas e no máximo

um bingo ou baile oficial. Literatura, pintura,

teatro quase sempre, balé, artes plásticas e até a

música (MPB) "dançam" literalmente ao sabor do

menosprezo dos alcaides ou da indiferença geral.

"NATO" AZEVEDO - (trecho de "REUNIÃO

DE IDEAIS", de 1989, republicado no site

cultural Overmundo, em 26/03/2008)

"Eu adoto a postura do amador. (...) qualquer um

sabe do que gosta e pode produzir alguma forma

de Arte. (...) A arte contemporânea estabelece um

jogo, é o jogo do diz e do desdiz. É o jogo da

contradição que citei antes. No fim das contas, a

arte não é aquilo que é dito, nem aquilo que é

desdito." (prof. AFONSO MEDEIROS, no

DIÁRIO DO PARÁ, de Belém/PA, 24/05/2013)

Segundo Júnior "o segredo é a profissionalização e

a boa apresentação do projeto (...). Acredito que

possa haver OUTROS MECANISMOS para

incentivar artistas no começo da carreira. Mas

também creio que há espaço para todos (...)".

(trecho da reportagem "Música domina o SEMEAR",

no jornal O Liberal, de Belém/PA, em 25/05/2013)

De repente, um modesto ensaio de um evento posterior em teatro de Belém -- filmado sem nenhuma outra preocupação que não fosse o registro do fato artistico -- ultrapassa as 300 visitas e trechos isolados dele vão parar "do outro lado do Mundo", na índia e no Azerbaijão. (Alguém sabe onde fica?!)

Minha gaita-de-boca -- horn, em inglês -- tocada por meio minuto, ou nem isso, pode até ter virado motivo de piada, em blogs do tipo "como não tocar gaita". Entretanto, no site em espanhol "DeliveryMusic.net" o "gemido de gato louco" é oferecido DE GRAÇA como ringtone ou para download. Do lado de lá do Oceanno Atlântico, sem perceber Mestre "Guará" colabora para que um pouco de cultura feita no Pará ganhe espaços no Mundo virtual (e fora dele?). Na era cibernética, você sai de quase nada e vai até o infinito... o coreano PSI é prova disso !

De repente, quem sonhava ficar rico postando fotos, textos ou música, irá descobrir muito tarde que a Internet virou "terra de ninguém", uma Serra Pelada em que tudo (e nada) tem dono... o Autor que se dane, se lasque, "se fume", pois sequer é avisado que seua obra está sendo copiada, "colada", reprisada, repartida, retitulada, "retocada", fundida. Programas especiais ou "motores de pesquisa" que poucos conhecem e menos pessoas ainda dominam "sniffam" e "cookiezam" nossas obras e as inocentes TAGS só facilitam as coisas para os "piratas" virtuais, se é que isso é pirataria, já que imensa parcela do que é postado não está à venda, só quer ser visualizado.

Meu irmão Renato tem "tropeçado" em blogs seus "oferecidos" como mercadoria virtual em sites e até portais -- do tipo GOSSIPSHERE.COM e VEENGLE.COM, além do "invasivo" PEEEPL.BR.COM -- de outros países, sem que os responsáveis pela "picaretagem" cibernética sequer se identifiquem. Foi êle que encontrou nossa dupla quase sertaneja CULTURA NOSSA, de curtíssima existência, em vários sites Mundo a fora. No céu, Abiezér Silva -- que ficava extremamente nervoso a cada apresentação, fumando feito chaminé -- deve estar surpreso com o considerável público que já assistiu o modesto vídeo feito em fita VHS no ISEP, em novembro de 1990. Se forem somadas as visitas aos filmetes de dança da Academia Oficina do Corpo e também os 2 "takes" da roda de Capoeira, as visões, views ou downloads, se aproximam do número 500 (ver... www.youtube.com/user/natoazevedo). VINTE ANOS depois do fato, praticamente todos os envolvidos se vêem pela primeira vez. Das quase 50 pessoas filmadas, a maior parte de jovens, mais de 40 largaram o penoso caminho das Artes e foram cuidar de suas vidas.

Talvez mestre GUARÁ ("Guaraminfô", para os amigos e alunos) não tenha dado maior importância a um registro tão amador, contudo para mim é lembrança magnífica. Não pela minha performance como declamador, para a qual ninguém parece ter dado a mínima atenção -- está no vídeo, para quem quiser constatar -- mas pelas presenças ainda vivos de 2 amigos, dois artistas admiráveis. O apresentador, voz maravilhosa, cantor de raro brilho, José Luís Coelho -- nome de meu avô materno, para os que gostam de "coincidências" e sincronicidade -- era também escritor candente, que como eu detestava Política, ambos "palpitando" sobre absolutamente tudo nas páginas do DIÁRIO DO PARÁ, na seção "Espaço Aberto", sob a coordenação amiga do jornalista Cléodon Gondim.

O violeiro e seresteiro Abiezér Silva também escrevia algumas "coisinhas", foi premiado como cordelista pelo CENTUR em 1989 -- a obra jamais foi publicada pela SECULT, descumprindo o regulamento do concurso literário -- mas era como compositor que brilhava soberano. Ao contrário do poeta "Zé Reys", que temia levar para o caixão suas obras nunca editadas em vida -- ver minha crônica "A Via Crucis dos sem talento" -- meu parceiro A. Silva deixou como "herança" ao filho 8 ou 10 cadernos com letras belíssimas. Pelo que ouví dizer. o mocinho jogou tudo no lixo !

Curiosamente, num país que faz tanta propaganda em torno da Saúde do povo -- ouviu, dona Dilma? -- ambos faleceram por deficiências de atendimento nos hospitais, o público no caso do "Zé" Luís (que partiu em 1997 ou 98) e o caríssimo para o ex-funcionário do MF/Belém, cuja "inflamação no umbigo" o convênio federal não cobria, isso em 2005.

Nenhum dos 3 participantes no vídeo "Abiezér Silva e Nato Azevedo" teve ou tem coisa alguma de sua lavra publicado ou gravado. (No meu caso, estou em 14 ou 15 coletâneas literárias, embora sem livro próprio.) Numa Amazônia da qual cheguei a crer que um dia não precisaria mais exportar madeira ou minérios tal a quantidade de artistas que posssuiria, só tenho visto nesses 30 ANOS -- a completar em 9/dez. próximo -- músicos mortos, escritores mortos, atores e pintores mortos... SEM MEMÓRIA, sem obras publicadas, sem registro algum, nem pelos filhos e parentes diretos. Nessa terra de ESPANTOS MIL sempre há dinheiro para POLÍTICA... e somente para "política", politicagem, politicalha perversa, eivada de promessas, cinismo e insensibilidade.

A maior parte dos artistas amazônicos (ou paraenses, melhor dizendo) nasce com um dom artístico impressionante, mas o usam tão-somente como "diversão", passatempo. Insisto desde 1989 que cada prefeito, em sua administração (em geral, de 4 anos) publique 1 coletânea de poetas e prosadores ou ao menos 1 LP/CD com músicos da região, a começar pelos mais antigos. O Governo Federal, que nos obriga a tantas coisas deveria impôr aos municípios, via MinC, novas diretrizes relativas aos artistas populares, amadores por excelência... antes que não sobre nenhum! Afinal, para vereadores, deputados e senadores há sempre verba!

Nessa Ditadura mal disfarçada Belém inaugura "nova era": é proibido sequer estacionar sobre uma ciclovia recém-inaugurada. Quem tem carro, terá que criar uma garagem em casa, às pressas, demolindo o quarto dos filhos ou a sala da família. Já era ruim a "lei" do fim do ano passado que proibiu a entrada de caminhões na capital entre as 8 e as 20hs... em São Paulo carros com placa X ou Y têm dia certo para circular. Afinal, que raios de "DEMOCRACIA" é essa, que finge ignorar que título eleitoral, CPF e RG são documentos meus, ME PERTENCEM e não podem ser cancelados ou anulados quando o Poder público assim o desejar ?! E o Senado e o MPF -- que tratam de DIREITOS do cidadão -- porque cntinuem em silêncio?

A prolífica Brasília das 20 ou 50 MIL LEIS produz novos "mecanismos de incentivo", nenhum voltado para o artista amador. Multinacionais (de telefonia e Bancos, principalmente) com projetos de apoio financeiro às artes fazem tantas exigências que até o caboclo interiorano "mais antenado" jamais conseguirá cumprir. Só como exemplo, no da Natura Musical de 2012 tinha-se que calcular quanto (e onde) seria investido em marketing, supondo-se que o "violeiro" saiba o que é isso.

Recentemente, saíram os resultados de programas locais de apoio às artes em Belém e os de LICs - leis de incentivo. São um retrato gritante da quantidade de artistas & Bandas ou Grupos folclóricos sonhando com um lugar ao sol, são a comprovação do abandono que o Estado pratica com quem não tem recursos ou oportunidades. Aliás, em geral os projetos oficiais exigem um currículo artístico que quase ninguém possui, até porque churrascarias e boates não cedem comprovantes dos shows realizados neles. Apenas na capital, dos 325 artistas/projetos inscritos em 2013 na Lei SEMEAR, 59 foram... "descartados na primeira avaliação por inconsistência na elaboração dos projetos", e outros 100 artistas eliminados no exame posterior.

Alguma análise da qualidade do trabalho do artista, do que precisa para melhorar, do que lhe falta em equipamento ou instrumentos?! Não, é mais cômodo para o Sistema ignorar o amador, mesmo talentoso, ao Estado pouco importa o artista menor, só lhe interessa os "medalhões", quem está no topo. Mas, se o artista (ou atleta, ou...) chegar a fazer sucesso algum dia, por pura sorte e pelo seu esforço -- veja-se os casos de Gaby Amarantos e da Banda Calypso, entre outros -- aí o Poder oficial "esquece" o eterno menosprezo destinado ao artista menor e "abraça" o PARAENSE que tanto faz pelo Estado "lá fora".

Vejamos os números finais de 2 projetos mais recentes: no "Terruá Pará" se inscreveram 364 pretendentes e dos 72 selecionados, menos de 15 artistas salvo engano eram nomes novos no cenário artístico de Belém. A vetusta "cirandinha" que favorece sempre OS MESMOS continua a vigorar intocável, contudo entre os 20 "suplentes" praticamente todos são artistas pouco citados em jornais ou nos palcos. Resta-lhes "torcer" para que uma dúzia dos "dinossauros" cansados de guerra MORRA até a data dos shows gigantescos. No projeto "Música na Estrada" 94 Bandas tentaram a sorte para apenas 4 vagas... "sem novidades no front" os Grupos novos ficarão por conta de cada Prefeitura onde o projeto se apresentar, isso se não houver "ingerência política", tão comum nesse Estado, para empurrar "goela abaixo" do organizador não o melhor artista do lugar mas, sim, o "afinado" com as lideranças locais.

Nos demais projetos que acenam com uma chance de apoio (e de verba) para o artista da região -- mesmo os particulares, bancados por empresas "de fora" -- nota-se igual tendência (e vício): "proteger" a todo custo o artista de renome, o amador ou iniciante por mais criativo "que se vire", se lixe ou como diz o "cabeção" do "Boizinho" mais oportunista da face da Terra... "(talvez) possa haver outros mecanismos para incentivar artistas no começo de carreira". Como em geral "carreira" só começa quando o sujeito ou Banda/Grupo atinge algum sucesso, tem gente há 10, 20 ou 30 anos "na estrada" e que ainda está "no começo da carreira".

Por falar nisso, virou folclore a figura do "compRositor", músico da Capital que "passa férias" no interior e volta cheio de... "inspiração". Por ironia do Destino, o sujeito que se negou a emprestar 2 instrumentos musicais -- como diretor do MIS - Museu da Imagem e do Som -- a um grupo de artistas amadores de Ananindeua, em nov./1990, é o mesmo que coordena um "Boi de camiseta" que cede dezenas de instrumentos para foliões de seu Grupo e ganha muitos créditos (?!) com tanta... bondade.

Em 1993 o vereador Nonato Sanova -- que se preocupava realmente com Cultura aqui em nosso município -- criou a LIC local, com seu nome, é claro. Veio um grupo de tecnocratas do CENTUR/SECULT discursar sobre a tal "Lei". Disse-lhes que enquanto Prefeituras e Governos não tomarem o caso nas mãos, praticamente artista algum irá se beneficiar dela. Sugerí que SEMECs e SECULTs relacionem TODAS AS EMPRESAS que querem praticar a tal "renúncia fiscal" nas cidades e na capital e cedam cópia do cadastro aos artistas interessados. Atualmente, o artista tem que "garimpar" empresa após empresa -- onde outros já estiveram -- sem sequer saber se ela pretende investir na tal "renúncia fiscal". O Estado não mexe um dedo -- exceto se fôr um "popstar" da música ou das artes -- para abreviar seu/nosso calvário.

Ananindeua, eternamente voltada apenas para bailes, bingos, futebol e Miss isso, Garota aquilo, não teve preocupações com a tal Lei. O vereador morreu, o filho fez-se vereador e, em 2003, sancionaram a tal Lei que somente em 2010 teve seus primeiros projetos autorizados a captar. Nenhum sinal até hoje, ano da graça de 2013, de alguém que tenha conseguido concretizar algum projeto com a verba da tal Lei Nonato Sanova. Como virou moda a inscrição desses projetos somente via Internet e o Pará está quase em último lugar em número de computadores NAS CASAS interligados à WEB, o artista amador, em cada municipio do interior, continua como sempre esteve... nascendo, vivendo e MORRENDO sem que sua obra musical ou artística seja conhecida além do seu círculo de amizades.

"Eu vim aqui / foi pra lhe falar / de minha canção... / e você / já nem se lembra mais / da minha voz!", cantou desconhecido autor de Vigia/PA, repassado para mim em 1987 pelo jovem multiartista SILVIO GUEDES dos Santos, outro injustiçado pelo Destino, hoje plantando mandioca nos confins do Pará. Assim caminha a Humanidade !

"NATO" AZEVEDO (poeta e compositor)

ANANINDEUA, Pará, BRASIL