COMO GATO
Por Carlos Sena
Quem não tem cachorro caça com gato, certo? Errado. Quem não tem cachorro caça como gato. É o que estou fazendo agora. Meio gato me esgueirando por entre as teclas do notebook e as ondas das melodias dos frevos de bloco da minta terra. Como se vê, estou mesmo a caçar como gato, porque viver neste país tão cheio de “tão vazios” de vida e de notícias boas, a gente fica inventando. Inventando pra ser feliz como na canção de Cazuza em que o “nosso amor a gente inventa”, mas disso eu já estou doutor, pois desde que nasci não faço outra coisa senão inventar o amor. Do meu jeito, mas é o jeito que me dá prazer e, certamente, deve sê-lo de outrem, pois da vida não nos basta as receitas prontas. Receitas prontas nem de bolo, ou às vezes ela. Porque eu quando pego uma receita de bolo ou de doce, com o tempo já modifico e adequo ao meu modo de sentir no paladar.
Por isto hoje me peguei caçando como gato. Quero dizer, ouvindo meus frevos de bloco e buscando na memória já um pouco “chamuscada” os sentimentos que um dia imprimi nas ruas do meu Recife. Principalmente na rua do Sol, da Aurora, da Imperatriz. Eu sou meio assim: chique no primeiro – diferente dos paulistas que o são no último. Lembro neste tear de lembranças que administro sem cachorro, mas como gato, da minha amiga Tatiana Bruscky – gente fina. Só não é mais fina porque senão fura a gente. Mas é fina com todo o teor de finess que nem se encontram mais. Certa noite, em sua casa, fizemos um brinde aos encontros. Encontros! Desses que os tempos modernos não proporcionam mais, posto que as redes sociais estão assumindo um pouco desse papel. Lá, tomamos um bom vinho tinto seco regado a tudo que se pode por direito e que não se pode também. Porque Tati é muito fina e eu nem tanto. Confesso que havia coisas na sua mesa que eu nem tinha visto. Melhor, comido. Melhor, degustado. Mas tudo em nome do simples que, mesmo diante de iguarias sofisticadas se torna ameno e acessível até mesmo aos menos iniciados na alta culinária como eu – outrora matuto de Bom Conselho lá nas terras de Papacaça. Um beijo pra ela que se diz minha fã numero um e eu acredito. Não sei sé mereço essa honraria, pois escrevo por falta de cachorro e, então, feito gato me esgueiro no mundo da literatura. Às vezes faço um pouco de lixeratura, mas me perdoo porque não sou medalhão das letras nem a isso almejo. Sei que há merdalhoes por aí e que eu sou bem melhor. Mas é a vida. Nem sempre a gente é cachorro e temos que dar graças a Deus por ser gato e com ele caçar enquanto toca no meu som os meus frevos de blocos preferidos da minha Recife.
Há uma canção baiana que diz “a Bahia me deu régua e compasso”... Eu digo: Pernambuco me deu passo. Passo que me conduz a vida desde que eu não me entendi por gente, porque gente não precisa se entender assim. Passo que me conduziu de Bom Conselho para Recife, para alguns países da Europa e para Brasília. Passos que me lembram o passado – aquele mesmo dos meus ontens que vez por outra passo a limpo como faço agora. Como se vê, diferente de Gil, Caetano, Bethânia, Gal e outros tantos, Recife não me deu régua nem compasso. Da régua prefiro a égua. A mesma que me iniciou na sexualidade como de tantos da minha época; do compasso, Recife me deu o PASSO. O “com” está contido nele: compasso entre mim e ti, entre ti e o mundo, entre o mundo e o imundo.
Hoje, estou aqui me passando por gato. Não um gato baiano que é meio preguiçoso e até no seu miado tudo fica meio “zen”: “meau”! Sou uma gato. Meio bichano e meio leviano na forma de ser – qual aquele que o povo diz quando a gente é jovem e bonito: “é um gato”. Nem tanto hoje, mas já fui mais. Contudo não me troco pelo troco que a vida no passado me deu. Um trôco tão cheio de sofrimentos e penúrias junto aos meus familiares. Hoje não. Hoje eu venci o tempo e determino o que faço e o que gosto de fazer da vida e nela. Da vida eu gosto do gosto que ela não dá, mas que a gente busca. Do tempo não gosto do tempo que a gente se dá, mas do tempo que eu faço pra mim e pra ser o meu escrevo.
O apito soou. É um frevo de bloco que acaba de me lembrar: “Quem tem saudades não está sozinho, tem o carinho da recordação. Por isso quando estou mais isolado, fico bem acompanhado com você no coração”.
Por Carlos Sena
Quem não tem cachorro caça com gato, certo? Errado. Quem não tem cachorro caça como gato. É o que estou fazendo agora. Meio gato me esgueirando por entre as teclas do notebook e as ondas das melodias dos frevos de bloco da minta terra. Como se vê, estou mesmo a caçar como gato, porque viver neste país tão cheio de “tão vazios” de vida e de notícias boas, a gente fica inventando. Inventando pra ser feliz como na canção de Cazuza em que o “nosso amor a gente inventa”, mas disso eu já estou doutor, pois desde que nasci não faço outra coisa senão inventar o amor. Do meu jeito, mas é o jeito que me dá prazer e, certamente, deve sê-lo de outrem, pois da vida não nos basta as receitas prontas. Receitas prontas nem de bolo, ou às vezes ela. Porque eu quando pego uma receita de bolo ou de doce, com o tempo já modifico e adequo ao meu modo de sentir no paladar.
Por isto hoje me peguei caçando como gato. Quero dizer, ouvindo meus frevos de bloco e buscando na memória já um pouco “chamuscada” os sentimentos que um dia imprimi nas ruas do meu Recife. Principalmente na rua do Sol, da Aurora, da Imperatriz. Eu sou meio assim: chique no primeiro – diferente dos paulistas que o são no último. Lembro neste tear de lembranças que administro sem cachorro, mas como gato, da minha amiga Tatiana Bruscky – gente fina. Só não é mais fina porque senão fura a gente. Mas é fina com todo o teor de finess que nem se encontram mais. Certa noite, em sua casa, fizemos um brinde aos encontros. Encontros! Desses que os tempos modernos não proporcionam mais, posto que as redes sociais estão assumindo um pouco desse papel. Lá, tomamos um bom vinho tinto seco regado a tudo que se pode por direito e que não se pode também. Porque Tati é muito fina e eu nem tanto. Confesso que havia coisas na sua mesa que eu nem tinha visto. Melhor, comido. Melhor, degustado. Mas tudo em nome do simples que, mesmo diante de iguarias sofisticadas se torna ameno e acessível até mesmo aos menos iniciados na alta culinária como eu – outrora matuto de Bom Conselho lá nas terras de Papacaça. Um beijo pra ela que se diz minha fã numero um e eu acredito. Não sei sé mereço essa honraria, pois escrevo por falta de cachorro e, então, feito gato me esgueiro no mundo da literatura. Às vezes faço um pouco de lixeratura, mas me perdoo porque não sou medalhão das letras nem a isso almejo. Sei que há merdalhoes por aí e que eu sou bem melhor. Mas é a vida. Nem sempre a gente é cachorro e temos que dar graças a Deus por ser gato e com ele caçar enquanto toca no meu som os meus frevos de blocos preferidos da minha Recife.
Há uma canção baiana que diz “a Bahia me deu régua e compasso”... Eu digo: Pernambuco me deu passo. Passo que me conduz a vida desde que eu não me entendi por gente, porque gente não precisa se entender assim. Passo que me conduziu de Bom Conselho para Recife, para alguns países da Europa e para Brasília. Passos que me lembram o passado – aquele mesmo dos meus ontens que vez por outra passo a limpo como faço agora. Como se vê, diferente de Gil, Caetano, Bethânia, Gal e outros tantos, Recife não me deu régua nem compasso. Da régua prefiro a égua. A mesma que me iniciou na sexualidade como de tantos da minha época; do compasso, Recife me deu o PASSO. O “com” está contido nele: compasso entre mim e ti, entre ti e o mundo, entre o mundo e o imundo.
Hoje, estou aqui me passando por gato. Não um gato baiano que é meio preguiçoso e até no seu miado tudo fica meio “zen”: “meau”! Sou uma gato. Meio bichano e meio leviano na forma de ser – qual aquele que o povo diz quando a gente é jovem e bonito: “é um gato”. Nem tanto hoje, mas já fui mais. Contudo não me troco pelo troco que a vida no passado me deu. Um trôco tão cheio de sofrimentos e penúrias junto aos meus familiares. Hoje não. Hoje eu venci o tempo e determino o que faço e o que gosto de fazer da vida e nela. Da vida eu gosto do gosto que ela não dá, mas que a gente busca. Do tempo não gosto do tempo que a gente se dá, mas do tempo que eu faço pra mim e pra ser o meu escrevo.
O apito soou. É um frevo de bloco que acaba de me lembrar: “Quem tem saudades não está sozinho, tem o carinho da recordação. Por isso quando estou mais isolado, fico bem acompanhado com você no coração”.