Café A Brasileira, (à direita da foto, oculto) Lisboa, Portugal.
O DESCONHECIDO
Lisboa, 26 de maio de 2013
A literatura é estranha, a não dizê-la imprevisível. Assemelha-se muito a pernas teimosas, quando não ébrias, que cismam sempre tomar rumo contrário às nossas pretensões.
A excursão oferecia mil razões para me ater literariamente nas maravilhas da Europa mediterrânea, nas pessoas alegres em volta, na companhia dos amigos, mormente nos momentos ímpares com Maria Luíza. Mas não, a literatura levou-me àquele homem desconhecido, de olhar triste e solitário.
Vim a conhecê-lo de vista em Lisboa, primeiro dia de viagem, no hotel. De tamanha discrição e aparência, eu o supus dono do estabelecimento, o que o próprio veio a desmentir-me posteriormente. Era carioca. Cabelos inteiramente brancos, a exemplo do basto bigode, tal fosse um da terra. Ele, aos 65 anos, carregava a minha mesma idade, a qual me era familiar em suas limitações e em seus desenganos. Coincidentemente, rumo à Espanha, viera sentar-se no ônibus à nossa frente. Viajava a sós. Sentava-se a sós em meio aos casais.
Do Alentejo a Extremadura, confidenciou-nos a família separada: uma estranha alheia a ele. De Madri a Catalunha, contou-nos seus acidentes, infortúnios e improváveis sonhos: velejar a sós e atravessar as Américas numa Halley Davidson. Dois exercícios de solidão e de risco.
Ao nos revelar tantas e tantas confidências, num desabafo natural a quem instintivamente ele confiou, --- ou a erupção íntima o levasse a tal, --- revelava-se tenaz fugitivo de si, ansioso por buscar um novo destino.
Após Roma, dizia, seguiria por conta própria. Rumaria ao Leste Europeu.
Que fosse ele, eu pensava, levar aquela tristeza perene e aquela solidão perturbadora aos confins do Continente, com o fito de dar cabo delas, mas, do alto de meus 65 anos antevia o quanto lhe seria caro.
E, na bela e conservada “carretera”, aquele homem conservava em si também sentimentos tão frios quanto o intenso frio que reinava lá fora.
Por falar em frio, que tal irmos ao café A Brasileira tomar um longo quentinho ao lado do xará Fernando Antonio Pessoa?... Vamos lá?
A literatura é estranha, a não dizê-la imprevisível. Assemelha-se muito a pernas teimosas, quando não ébrias, que cismam sempre tomar rumo contrário às nossas pretensões.
A excursão oferecia mil razões para me ater literariamente nas maravilhas da Europa mediterrânea, nas pessoas alegres em volta, na companhia dos amigos, mormente nos momentos ímpares com Maria Luíza. Mas não, a literatura levou-me àquele homem desconhecido, de olhar triste e solitário.
Vim a conhecê-lo de vista em Lisboa, primeiro dia de viagem, no hotel. De tamanha discrição e aparência, eu o supus dono do estabelecimento, o que o próprio veio a desmentir-me posteriormente. Era carioca. Cabelos inteiramente brancos, a exemplo do basto bigode, tal fosse um da terra. Ele, aos 65 anos, carregava a minha mesma idade, a qual me era familiar em suas limitações e em seus desenganos. Coincidentemente, rumo à Espanha, viera sentar-se no ônibus à nossa frente. Viajava a sós. Sentava-se a sós em meio aos casais.
Do Alentejo a Extremadura, confidenciou-nos a família separada: uma estranha alheia a ele. De Madri a Catalunha, contou-nos seus acidentes, infortúnios e improváveis sonhos: velejar a sós e atravessar as Américas numa Halley Davidson. Dois exercícios de solidão e de risco.
Ao nos revelar tantas e tantas confidências, num desabafo natural a quem instintivamente ele confiou, --- ou a erupção íntima o levasse a tal, --- revelava-se tenaz fugitivo de si, ansioso por buscar um novo destino.
Após Roma, dizia, seguiria por conta própria. Rumaria ao Leste Europeu.
Que fosse ele, eu pensava, levar aquela tristeza perene e aquela solidão perturbadora aos confins do Continente, com o fito de dar cabo delas, mas, do alto de meus 65 anos antevia o quanto lhe seria caro.
E, na bela e conservada “carretera”, aquele homem conservava em si também sentimentos tão frios quanto o intenso frio que reinava lá fora.
Por falar em frio, que tal irmos ao café A Brasileira tomar um longo quentinho ao lado do xará Fernando Antonio Pessoa?... Vamos lá?