Fique em casa, tranque as portas e espere a morte chegar...

- Cuidado você está sendo vigiado!

- Olhe para todos os lados.

- Evite andar em lugares desertos.

- Quando estacionar o carro tranque as portas e não se esqueça de levar o som.

- Evite falar com estranhos.

- Não reaja a um assalto.

- De madrugada não pare no sinal vermelho.

É óbvio que não se pode afirmar que a violência seja pura invenção jornalística. Mas o fato é que um bombardeio de casos passam a ser noticiados diariamente: ônibus incendiados, ruas fechadas, balas perdidas, estupros, roubos de automóveis, assaltos e crimes bárbaros. Com medo, grande parcela da população se adapta à vida urbana altamente impessoal, vivendo sempre insegura. Outros aprendem a conviver com os problemas ou simplesmente ignorá-los.

A indústria do medo explora os dramas do cotidiano ao máximo. Fortes interesses econômicos estão em jogo. A população assustada, além de possuir um enorme potencial de consumo dessas quinquilharias de monitoramento eletrônico, fica refém de formas de sujeição que aumenta ainda mais a barreira social entre as classes. Por medo, pessoas abrem mão da privacidade e se entregam à polícia, a empresas de segurança e dispositivos permanentes de vigilância e controle.

O outro é uma potencial ameaça. O medo transforma o pobre em suspeito e a tendência é a dos mais ricos refugiarem-se em condomínios fortificados, carros blindados, câmeras de segurança, cercas elétricas, muros altos, portões reforçados, cães de guarda, rastreadores GPS, escoltas particulares e até mesmo quartos do pânico.

A banalização da vida assume diversas facetas, naturalizando a violência que começa a se tornar mais tolerável e até mesmo desejada contra certos grupos que representam uma potencial ameaça. Resta para muitos, ficar acuado em casa, clamar aos céus e alimentar os temores através da espetacularização da violência propagadas pelos meios de comunicação, que exploram, lucram e tiram alguma vantagem de toda a situação.

O mal moderno se instaura no imaginário do medo urbano fazendo surgir à sensação crescente de que o mundo está cada vez mais perigoso do que realmente é.

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 07/06/2013
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