NÃO HÁ PERDÃO SEM A DEVOLUÇÃO DO ROUBO.
Escrito em 1655 por Vieira, o sermão do “ Bom Ladrão”, foi assistido por D. João IV e sua corte, bem como dignitários do reino, juízes, ministros e conselheiros.
Como em vaticínio dos vários “brasis” do futuro, no momento em que vivia, Vieira ataca os que se locupletavam em sua terra valendo-se da máquina pública para enriquecer ilicitamente.
Apontou escândalos e desmandos, riquezas ilícitas, gestões fraudulentas, malversação da coisa pública.
Estava Padre Vieira na Igreja da Misericórdia, mas, corajosamente, destacou que a Capela Real seria mais própria para sua prédica, pois “iria falar de assuntos pertinentes à sua Majestade e não à piedade.”
Mostra o pecado da corrupção passiva e ativa, e realça alertando aos reis quanto ao silêncio acumpliciado.
É forte seu verbo na imoralidade que campeia na época.
“Levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei.
Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é, em vez de os reis levaram consigo os ladrões ao paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno.”
E asseverava, sem temor:
“A salvação não pode entrar sem se perdoar o pecado, e o pecado não se perdoa sem se restituir o roubado: Non dimittitur peccatum nisi restituatur ablatum."
“Suposta esta primeira verdade, certa e infalível; a segunda verdade é a restituição do alheio sob pena de salvação, não só obrigando aos súditos e particulares, senão também aos cetros e as coroas. Cuidam ou deveriam cuidar alguns príncipes, que assim como são superiores a todos, assim são senhores de tudo; e é engano. A lei da restituição é lei natural e lei divina. Enquanto lei natural obriga aos reis, porque a natureza fez iguais a todos; enquanto lei divina também os obriga; porque Deus, que os fez maiores que os outros, é maior que eles.”
E continua com sua visão filosófica, sic:
“Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens viu que uma grande tropa de varas e ministros da justiça levava a enforcar uns ladrões e começou a bradar: lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos...”
Padre Vieira conhecia a humanidade....