JOGANDO PLAYSTATION

Ontem “ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar...” No mesmo rosto de menino o olhar adulto e no corpo de homem a alma de criança. Lua de mel torna mais doce os prazeres da vida, sem se dar conta dos dias, do tempo, ausência e distância. Quem fica é que sente o que é diferente. Igual é saber que quem ama sofre as ausências. Agora quase tudo muda em tempo e lugar, mas deixa algo comum num só laço de ternura. Ah, não quero ir por este lado emocional. Quero pensar racional e objetivamente com a “inteligência” da máquina. Que parada essa! A máquina pensa ou apenas age pelo nosso comando? Move-se pelo domínio do homem robotizado. Homem besta, besta homem, indomável a si mesmo, que quer dominar o mundo e o próprio coração não comanda. Nem o pensamento. O pensamento é livre como o vento a soprar em qualquer lugar. Ih!... Também não quero filosofar. Filosofar há muito já não é pensar, mas outro pensador citar. Prefiro escrever, assim como o faço agora, sem nada obedecer. Seguindo o aleatório (Que palavrinha besta!). É como gravata, aquele envoltório que modifica a personalidade do homem. Prefiro doido, como era doida a doída Clarice na lucidez da loucura. Ela só encantava assim, com a palavra solta na língua; às vezes sem pontuação, sintaticamente desorganizada como lhe vinha o pensamento. Se lhe viessem organizadas as ideias, dela escapariam. Palavras soltas na língua, embora com a língua presa. Daí aquele sotaque nada a ver com ucraniano, que também não era um tropeço linguístico, mas fonoaudiólogo. Não sei o que é pior: se este palavrão ou a dicção de Clarice. Sobre a língua (idioma), Saramago também subvertia a norma “saramagando” (ou “salamargando”) textos. Saramago foi mais encantatório. Ceticamente encantatório para os que apreciam a subversão pela subversão. Perder o rumo e o prumo como os perco agora. Que tem a ver tudo isso com Playstation? Assim como escrever, não quero explicar. Quero jogar. Se eu errar a máquina é que é inteligente. Mas eu erro. E João ganha todas as paradas. Íamos sempre, eu e ele, na disputa de que eu era perdedor. Agora há mais um competidor, meu filho Gabriel. Ele domina um pouquinho os botões, fixa o olhar na tela, grita e ri. Não entendi quando ele se afastou de repente. Calado, atrás da porta com os braços cruzados. - Que foi meu filho, que aconteceu? Ele demorou a responder e mandou de uma vez: “Estou chateado!” - Chateado? (Dei uma risada) Ué, por quê? - O tio não me deixa ganhar!... Oh, João, deixa o meu filho ganhar essa parada seu malvado! - Dobramos uma gargalhada. Perdi o lance deste jogo, isto é, o fio deste texto. O meio campo embolou, misturei tudo. Nada de parágrafo; estou sob o controle de Clarice. João, com Saramago. Gabriel bem no meio da linha. Gol! Quem inventou o parágrafo? Ah, foi o mesmo que dividiu o campo. Não há entre a linha divisória do campo e a que separa um parágrafo a mesma lógica. A regra é clara, (a do futebol) diz Arnaldo César Coelho. Com as regras do texto concordam os gramáticos e discordam os examinadores. Ah! Eles pensam diferente sobre o que interpretam da
 mesma questão. E a nota? isto é, o resultado, como é que fica? Ah, é melhor encerrar esse jogo. Digo, este texto ou, como queira, o PlayStation.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 07/06/2013
Reeditado em 08/06/2013
Código do texto: T4330285
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