ÁRVORE DA VIDA
(*) Edimar Luz
A carnaúba, que é uma planta típica aqui da nossa região, é uma palmeira com folhagem em forma de leque, e, na verdade, dela nada se perde, tudo se aproveita, daí a justa denominação a ela atribuída de “Árvore da Vida” ou “ Árvore da Providência”, em vista dos benefícios que ela oferece. É mesmo verdade que esta árvore tem todas as suas partes aproveitadas. Da raiz às folhas, tudo se aproveita da carnaúba, e conhecemos todos os produtos, ou subprodutos, dela advindos. Os maiores produtores são, como sabemos, os estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, podendo aparecer, ainda, em pequenas proporções, em alguns outros estados vizinhos. Aqui no Piauí, os carnaubais são realmente densos e abundantes. Aliás, a carnaúba é uma espécie de emblema no nosso estado, que é, sem sombra de dúvida, seu maior produtor. É maravilhoso observar grandes porções dos nossos campos e roças, impregnados de carnaubais, ou mesmo os trechos de pequenos grupos desta bonita planta, e até mesmo, em alguns casos, quando solitariamente enfeita a borda de alguma roça, campo ou estrada.
É bem verdade que alguns vegetais como a carnaubeira, revestem suas folhas de uma substância cerosa, característica que corresponde a uma defesa do vegetal contra ambientes muito secos, evitando, assim, a evapotranspiração/evaporação.
A carnaúba é realmente uma árvore majestosa, esbelta e muito bonita que se desenvolve extraordinariamente nos vales dos nossos rios e riachos ou também em outras áreas úmidas de nossa região. Aliás, ela é também uma das palmeiras que compõem a chamada Mata dos Cocais, vegetação e área de transição entre os climas semi-árido e tropical que abrange a região nordestina chamada de Meio-Norte.
É importante ressaltar, ainda, que os carnaubais encontram-se geralmente em solos argilosos e também úmidos, como destaquei acima. Comumente acompanham as várzeas que flanqueiam os cursos dos rios, dos riachos ou dos terrenos baixos onde não lhes falta umidade. É bastante agradável o farfalhar dos carnaubais, que é, como se sabe, aquele rumor de sua folhagem sob a ação do vento.
De estirpe reta, a carnaúba, planta nativa desta área do Nordeste, apresenta uma altura média de vinte metros, podendo atingir, em condições especiais, uma altura bem maior. Ela é, na verdade, uma planta de crescimento muito lento, como podemos observar “in loco”, e a primeira colheita só se dá depois de sete ou oito anos, quando a planta atinge o estágio adulto.
Cumpre lembrar que o principal produto da carnaúba é a cera, de grande aplicação industrial, sendo mais espessa e de melhor qualidade nas folhas novas. Diga-se de passagem, um dos principais produtos exportados pelo Piauí é a cera da referida planta. A cera, como sabemos, tem numerosos empregos, como a fabricação de velas, lacres, vernizes, polidores, cera para assoalho, atuando ainda como agente impermeabilizador, em embalagens e isolantes, em materiais elétricos. Além da cera, esta admirável planta oferece um grande número de outros produtos, tão bem conhecidos dos sertanejos: do caule, que é famoso por sua resistência, elabora-se madeira para construções, cercas etc.; das folhas, depois de extraída a cera, confecciona-se manualmente chapéus, cordas, esteiras, surrões etc.; da raiz, fabrica-se artesanalmente medicamentos, e ainda os frutos, de coloração preta quando maduros, são usados como alimentação.
A colheita para a extração do pó, atividade extrativa tradicional no Nordeste, em particular na área mencionada, constitui-se na derrubada ou retirada das folhas das plantas, por trabalhadores usando uma espécie de foice atrelada a uma longa vara de bambu, principalmente; depois as folhas são secadas ao sol. Lembro-me dos antigos carros munidos de máquinas destinadas a beneficiar o produto, circulando pelas regiões dos carnaubais. Esses caminhões/máquinas eram também chamados de “batedores”. Na época do auge da valorização maior desse produto, isto é, a cera, os exploradores a chamavam de “o dinheiro verde" ou "ouro verde". O ciclo econômico da carnaúba praticamente desapareceu com o passar do tempo, mas esta bonita palmeira ainda é presença constante aqui na nossa região.
Obs. Do meu livro MEMÓRIAS DO TEMPO. Direitos reservados.
(*) Edimar Luz é escritor/cronista, poeta, memorialista, articulista, compositor, professor e sociólogo, formado em Recife – PE.
Picos - PI, julho de 1999.