Não escondo de quem quer que seja, minha predileção por felinos e certa indisposição por canídeos, não chega ser algo violento é mais, uma contrariedade!
Me agrada nos gatos a altivez, a simetria, a pseudo indolência e o gosto pela noite e que seja claro ao leitor que o gosto pela noite a que me refiro é um gosto refinado, calcado em liturgias e desassombro, difere do gosto humano, que é calcado no vicio, no deslumbre e na estupidez.
Foi, e por lá ficou no seculo 19 os bons costumes dos humanos notívagos; Insones e prudentes vislumbradores da nostalgia que a noite convoca.
Ah! A poesia e o seculo 19! A noite e o seculo 19! Síntese das boas coisas e da boa vida. Saudades do que não vivi.
Tenho amigo, que somente viaja a noite, mesmo que chova, mesmo que seja lua nova e que seja inverno, mesmo que a estrada seja de terra batida por pés de caminhantes isolados e tristes, mesmo que a estrada seja trilha na serra e que as noites sejam nebulosas , mesmo que não haja poesia e muito menos estrelas, mesmo que seus pés tenham calos e seus músculos tremam pelo desgaste e pela tristeza.
Seu gosto pela noite e pelo caminhar o predispõe a trajes rústicos e bonés, sapatos velhos e mochilas, facas e frutas e claro; lanternas. Saibam que este meu amigo, tem; (quando em casa) oito gatos, que na sua ausência alimentam-se frugalmente, sem escândalos e sem choramingo; saem pela janela, quando a noite chega e de saudade gargalham no muros e telhados. feito Exu, que ri de tristeza!
Ah! se fossem cães, que lamuria, que sujeira que resmungo que raiva!
Hoje cedo sai a rua em companhia de tatá que já velha, pouco fala, caminhei pela calçada, ela ao meu lado, com a imperturbável dignidade de uma velha gata de boa raça e estirpe verdadeira, onze anos de dedicada vida ao ocio e a observação.
Calda erguida e bigodes meticulosos, olhou a tudo e por fim olhou-me nos olhos, e na sua língua perfeitamente compreensível, disse-me: Vamos entrar. O mundo que partilhas com os de tua espécie é confuso, porém simples e despojado de mistérios, percebo claramente que eles perderam o desejo de serem serenos, pudicos e belos, vivem o artificialismo de um século que se avizinha roído!
Penso sinceramente que vocês deram muito liberdade para os roedores.
*********
"Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem que ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação."
Me agrada nos gatos a altivez, a simetria, a pseudo indolência e o gosto pela noite e que seja claro ao leitor que o gosto pela noite a que me refiro é um gosto refinado, calcado em liturgias e desassombro, difere do gosto humano, que é calcado no vicio, no deslumbre e na estupidez.
Foi, e por lá ficou no seculo 19 os bons costumes dos humanos notívagos; Insones e prudentes vislumbradores da nostalgia que a noite convoca.
Ah! A poesia e o seculo 19! A noite e o seculo 19! Síntese das boas coisas e da boa vida. Saudades do que não vivi.
Tenho amigo, que somente viaja a noite, mesmo que chova, mesmo que seja lua nova e que seja inverno, mesmo que a estrada seja de terra batida por pés de caminhantes isolados e tristes, mesmo que a estrada seja trilha na serra e que as noites sejam nebulosas , mesmo que não haja poesia e muito menos estrelas, mesmo que seus pés tenham calos e seus músculos tremam pelo desgaste e pela tristeza.
Seu gosto pela noite e pelo caminhar o predispõe a trajes rústicos e bonés, sapatos velhos e mochilas, facas e frutas e claro; lanternas. Saibam que este meu amigo, tem; (quando em casa) oito gatos, que na sua ausência alimentam-se frugalmente, sem escândalos e sem choramingo; saem pela janela, quando a noite chega e de saudade gargalham no muros e telhados. feito Exu, que ri de tristeza!
Ah! se fossem cães, que lamuria, que sujeira que resmungo que raiva!
Hoje cedo sai a rua em companhia de tatá que já velha, pouco fala, caminhei pela calçada, ela ao meu lado, com a imperturbável dignidade de uma velha gata de boa raça e estirpe verdadeira, onze anos de dedicada vida ao ocio e a observação.
Calda erguida e bigodes meticulosos, olhou a tudo e por fim olhou-me nos olhos, e na sua língua perfeitamente compreensível, disse-me: Vamos entrar. O mundo que partilhas com os de tua espécie é confuso, porém simples e despojado de mistérios, percebo claramente que eles perderam o desejo de serem serenos, pudicos e belos, vivem o artificialismo de um século que se avizinha roído!
Penso sinceramente que vocês deram muito liberdade para os roedores.
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"Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem que ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação."
Martha Medeiros é jornalista e escritora brasileira
Imagem: Olimpio de Roseh.
P.S. O gato fotografado somente existe na memoria de quem dele cuidou e o amou o mesmo que é citado nesta cronica, meu irmão Jurandir.