NATAL COM OUTROS OLHOS
Quando vou à Zona Norte, gosto de me sentar, no ônibus, naquelas cadeiras que ficam empressadas num espaço pequeno e de frente para o resto dos pagantes. Meio masoquista, eu sei, mas vale a pena.
Gosto de ver Natal de um "modo" diferente: trás para frente.
Quando o ônibus está na Ponte Velha, nossa, que vista!
Meu coração acelera e prendo a respiração.
Penso: "Minha cidade é linda!".
Costumo dividir, nessa hora, Natal em três planos: A ponte antiga e abandonada (01º), a cidade (02º) e as dunas lá no fundo da paisagem (03º).
Aí, minha mente devaneia a mil por hora...
Ver os prédios "apontando" para o céu, ver as inúmeras ladeiras, num curto movimento de olhos é possível ver a Ribeira, Cidade Alta, Petrópolis, Quintas, Alecrim e outros bairros que nem sei o nome; tudo refletido pelas águas do rio Potengi num pôr-do-sol alaranjado: é poético.
É uma das coisas que mais fico grato com o Curso de Letras: abrir meus olhos para coisas cotidianas que são muito poéticas.
Tenho vontade de pedir para o motorista parar o ônibus, só para olhar o quanto Natal é bela.
Mas esse gozo dura alguns instantes. Depois meu deslumbramento torna a ser decepção. A bela imagem de Natal é tomada por terrenos baldios, construções desgovernadas, entulhos, sujeira, trânsito pesado, pobreza... É um tapa da realidade na minha cara sonhadora.
Então, lembro-me que aquela bela imagem de Natal também esconde o que estou vendo agora...
Decepciono-me. Coloco os fones de ouvido e aperto "play" no meu celular. E fico pensando: "Natal: duas caras, dois sentimentos. Ou sou eu que sou bipolar?".
Por fim, fico orando para chegar ao meu destino final.