Mudanças de ares
Meu coração mudou de pouso quando me deparei com aquela, no mínimo, exótica pousada. Era em Santa Teresa. No portão aguardava-me Cornelius, o dono do estabelecimento. Entregou-me a chave do quarto 14 e direcionou-me até ele. No caminho, muitas flores e plantas, orquídeas e, principalmente, diversas esculturas. Os donos passavam, aos
meus olhos curiosos, a cada canto, o seu amor às artes.
Foi através da internet que cheguei àquele local. Informei-me por telefone à respeito, e reservei a minha estada por três dias na pousada.
No caminho até meu quarto, ouço vozes de jovens, senhores e senhoras no jardim. Percebo grupos de pessoas espalhados pelo local, falando línguas diversas. Além do português, o alemão, o inglês, o francês e o espanhol. Logo noto a presença de uma linda senhora de
cabelos brancos e olhos azuis, que se apresenta com um sorriso simpático:
_ Mein Name ist Theo. Theobata.
Sinceramente, nunca ouvira aquele nome em toda minha vida. Venho a saber que era alemã, mãe de Cornelius e viúva de um suíço. Seu filho Cornelius e o neto Andreas, um jovem de 25 anos, moravam na pousada e Theo vinha esporadicamente visitá-los. O mais interessante _ Theo morava próximo ao Pico das Agulhas Negras, numa altitude de 1400 metros, numa casa cravada na montanha em estilo suíço; provavelmente de madeira.
Ali passei três ótimos dias em contato com Theo, Cornelius e os outros hóspedes, ora me comunicando em alemão, ora em português, ora tropeçando no inglês, e, além disso, passeando, pelos arredores do bairro, que estava em ritmo de festas juninas e, por toda parte, exposições de flores e plantas de várias espécies. Conheci um esperto rapazinho de 9 anos que se aproximou de mim dizendo: _ Bonjour, je parle beaucoup de
langues, quer ver?: I love you, ich liebe dich, merci, danke, adieu, ....
De volta ao lar, chego com a alma lavada, o coração renovado e mais aberto ao contato e afazeres do dia a dia.
Um evento em Santa Teresa me chama agora, não mais ao Rio de Janeiro e sim a Belo Horizonte. Comparando os dois bairros de Santa Teresa (Rio/BH) ambos são interessantes. O
primeiro é o preferido dos estrangeiros que querem morar na Cidade Maravilhosa. Pagam um preço alto por isso. A maioria passa por dificuldades, pois tem que aceitar os rendimentos não
muito elevados em troca de seus serviços. Há um grande número de artistas entre eles. Vivem da arte e dos prazeres mundanos que a cidade tem para oferecer. O que não é pouco. Afinal, estão na Cidade Maravilhosa. Às vezes se esquecem, inclusive, de suas aparências, para juntar algum dinheiro para suas viagens anuais a suas terras natais. Entre
os gringos, especialmente europeus (suíços, alemães, austríacos, franceses, japoneses, nórdicos e outros.) existe uma classe intelectual e tradicional da sociedade carioca naquele bairro, o qual possui características e construções da época do império. O trenzinho da Lapa sobe até o alto, num trajeto que mostra as belezas do local e a vista para parte da Bahia de Guanabara com seus barcos e navios. Não muito longe fica o Cristo Redentor, "Braços abertos sob o sol da Guanabara!", parecendo observar e proteger tudo ao seu redor.
Perigosamente uma grande favela desce a encosta de um dos lados do morro.
Já, Santa Teresa em Belo Horizonte, é o interior dentro da cidade grande. Muita arte, atrações musicais, apresentações teatrais na praça Duque de Caxias , bares, shows, casas de dança e outros. A simplicidade interiorana predomina. Tem cara de confraternização e amizade. Tem cara do jeito simples do interior brasileiro.
Ignez / Março de 2010