Amor: vida ou morte?
“Ah, se eu te pudesse fazer entender/sem seu amor eu não posso viver/que sem nós dois o que resta sou/eu assim tão só/ e eu preciso aprender a ser só...Por Deus entenda que assim eu não vivo e morro pensando no nosso amor...”
Essa é uma antiga canção de autoria dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, e já foi interpretada por grandes nomes da MPB: Maysa, Elis Regina, Tim Maia, Gilberto Gil e outros. A canção é linda. É de tocar o coração de quem está apaixonado, principalmente de quem “perdeu” um grande amor.
Já houve um tempo em que eu acreditava piamente nisso: que “perder” um grande amor seria a morte. Hoje não acredito mais. Primeiro, porque agora eu entendo que pessoas não se perdem, pessoas vão embora. Às vezes, a dor de ver alguém indo embora é grande, sim. Algumas vão porque querem ir, outras porque você as manda e depois bate um baita arrependimento. Aí dói, muito. Principalmente quando você percebe que ele (ou ela) está mais feliz sem estar ao seu lado. Mas sentir vontade de morrer, dizer que vai morrer, ah, me poupe. Isso não existe. Sabe por quê? Porque já fui tantas vezes ignorada, deixada, abandonada, trocada por outra e ainda estou aqui, vivinha da silva. Também já deixei de amar algumas pessoas e nenhuma delas morreu. Continuam por aí, tocando a vida, e algumas até com cara de bem felizes.
Parece até que não sou romântica, não é? É claro que sou, e muito. Ninguém se apaixonou mais nessa vida do que eu. Já contei isso em meu primeiro livro, o Mexendo no Baú. Minha primeira paixão aconteceu quando eu tinha apenas dez anos. O garoto estudava na mesma escola que eu. Ele era lindo, mas nunca me deu a menor chance. Depois de alguns meses de choradeira, desencanei. Depois veio outro, e outro, e mais outros. Fui crescendo e sempre me apaixonando, mas nem sempre realizando o sonho de namorar ou de ficar com todos eles. Na maioria das vezes o sentimento era unilateral, só eu sentia. Às vezes, eles nem sabiam que eu os amava. Amor platônico, como os filósofos e os psicólogos gostam de dizer. Quando rolava namoro e esse chegava ao fim, nossa, havia muito sofrimento, muitas lágrimas, muitas pilhas gastas do meu radinho em que eu ficava ouvindo músicas do tipo da que iniciou o texto.
Cada paixão tinha sua trilha sonora. Lembro-me de uma cara que namorei, e talvez tenha sido a maior das maiores paixões, que uma vez me trouxe uma fita cassete com músicas do Elton John. De todas as músicas da fita, Skyline Pigeon foi a escolhida para ser o “nosso tema”. O namoro acabou, ele foi embora, eu fiquei mal por muito tempo, mas sobrevivi. Ainda hoje me lembro dele quando ouço essa canção. Que saudade daquele tempo!
Na vida adulta, tive dois grandes amores. O primeiro me deu o que há de mais precioso em minha vida: meus três filhos. Foi bom por muito tempo, mas acabou. O segundo, e atual, tem me dado muitas alegrias (e algumas chateações, é claro, porque não existe relacionamento perfeito), porém não sou ingênua a ponto de acreditar que possa durar para sempre. Nada nessa vida tem a garantia de durar para sempre. O nosso esforço é diário (e já faz quinze anos que estamos nos esforçando) para manter o que tem sido bom e prazeroso. Não quero que acabe. Acho que ele também não. No entanto, se um dia acabar não tenho a intenção de morrer por isso. É evidente que vou chorar rios de lágrimas, que vou ficar muito triste e vou precisar de um tempo para me recuperar e me reconstruir, mas daí a morrer há uma distância enorme. Se eu tivesse que morrer por alguém, morreria por meus filhos.
Eu sou uma mulher inteligente o suficiente para entender que os compositores muitas vezes se utilizam de determinadas palavras como força de expressão, como recurso poético. Até a gente mesmo está sempre usando a palavra morrer para expressar uma coisa que sente com intensidade. Quem nunca disse: “Estou morrendo de fome”, ou “Estou morrendo de saudade”, ou “Estou morrendo de vontade de comer pizza”? Pois é, mas tem gente que leva a coisa ao pé da letra e resolve morrer também de e por amor. Amor por quem? Por si própria com certeza é que não é. Pelo outro? Ele não merece. Não sei quem é, mas não merece. Ninguém merece.
Conheci uma mulher que colocou fogo no corpo porque descobriu a traição do marido. Ela não morreu, e ainda ficou cheia de marcas horríveis, e ele deixou-a para viver com a amante. Valeu a pena? Claro que não. Conheci outras duas que se entupiram de comprimidos e tudo o que conseguiram foi uma horrível lavagem estomacal e uma bronca do médico. Quanto aos maridos, um foi embora, e o outro, ainda que continue com ela, não deixou de galinhar por aí. Ai que coisa triste!
Faço mil loucuras por amor (já fiz tantas), mas não esperem que eu morra. Não está nos meus planos cortar os pulsos, me jogar do décimo andar, dar um tiro na cabeça, tomar veneno de ratos ou tomar outras atitudes que coloquem minha preciosa vida em risco. Quando amo é pra valer, mas nenhum amor vale ou valerá o meu viver.
Amor pra mim é sinônimo de vida, não de morte.
“Ah, se eu te pudesse fazer entender/sem seu amor eu não posso viver/que sem nós dois o que resta sou/eu assim tão só/ e eu preciso aprender a ser só...Por Deus entenda que assim eu não vivo e morro pensando no nosso amor...”
Essa é uma antiga canção de autoria dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, e já foi interpretada por grandes nomes da MPB: Maysa, Elis Regina, Tim Maia, Gilberto Gil e outros. A canção é linda. É de tocar o coração de quem está apaixonado, principalmente de quem “perdeu” um grande amor.
Já houve um tempo em que eu acreditava piamente nisso: que “perder” um grande amor seria a morte. Hoje não acredito mais. Primeiro, porque agora eu entendo que pessoas não se perdem, pessoas vão embora. Às vezes, a dor de ver alguém indo embora é grande, sim. Algumas vão porque querem ir, outras porque você as manda e depois bate um baita arrependimento. Aí dói, muito. Principalmente quando você percebe que ele (ou ela) está mais feliz sem estar ao seu lado. Mas sentir vontade de morrer, dizer que vai morrer, ah, me poupe. Isso não existe. Sabe por quê? Porque já fui tantas vezes ignorada, deixada, abandonada, trocada por outra e ainda estou aqui, vivinha da silva. Também já deixei de amar algumas pessoas e nenhuma delas morreu. Continuam por aí, tocando a vida, e algumas até com cara de bem felizes.
Parece até que não sou romântica, não é? É claro que sou, e muito. Ninguém se apaixonou mais nessa vida do que eu. Já contei isso em meu primeiro livro, o Mexendo no Baú. Minha primeira paixão aconteceu quando eu tinha apenas dez anos. O garoto estudava na mesma escola que eu. Ele era lindo, mas nunca me deu a menor chance. Depois de alguns meses de choradeira, desencanei. Depois veio outro, e outro, e mais outros. Fui crescendo e sempre me apaixonando, mas nem sempre realizando o sonho de namorar ou de ficar com todos eles. Na maioria das vezes o sentimento era unilateral, só eu sentia. Às vezes, eles nem sabiam que eu os amava. Amor platônico, como os filósofos e os psicólogos gostam de dizer. Quando rolava namoro e esse chegava ao fim, nossa, havia muito sofrimento, muitas lágrimas, muitas pilhas gastas do meu radinho em que eu ficava ouvindo músicas do tipo da que iniciou o texto.
Cada paixão tinha sua trilha sonora. Lembro-me de uma cara que namorei, e talvez tenha sido a maior das maiores paixões, que uma vez me trouxe uma fita cassete com músicas do Elton John. De todas as músicas da fita, Skyline Pigeon foi a escolhida para ser o “nosso tema”. O namoro acabou, ele foi embora, eu fiquei mal por muito tempo, mas sobrevivi. Ainda hoje me lembro dele quando ouço essa canção. Que saudade daquele tempo!
Na vida adulta, tive dois grandes amores. O primeiro me deu o que há de mais precioso em minha vida: meus três filhos. Foi bom por muito tempo, mas acabou. O segundo, e atual, tem me dado muitas alegrias (e algumas chateações, é claro, porque não existe relacionamento perfeito), porém não sou ingênua a ponto de acreditar que possa durar para sempre. Nada nessa vida tem a garantia de durar para sempre. O nosso esforço é diário (e já faz quinze anos que estamos nos esforçando) para manter o que tem sido bom e prazeroso. Não quero que acabe. Acho que ele também não. No entanto, se um dia acabar não tenho a intenção de morrer por isso. É evidente que vou chorar rios de lágrimas, que vou ficar muito triste e vou precisar de um tempo para me recuperar e me reconstruir, mas daí a morrer há uma distância enorme. Se eu tivesse que morrer por alguém, morreria por meus filhos.
Eu sou uma mulher inteligente o suficiente para entender que os compositores muitas vezes se utilizam de determinadas palavras como força de expressão, como recurso poético. Até a gente mesmo está sempre usando a palavra morrer para expressar uma coisa que sente com intensidade. Quem nunca disse: “Estou morrendo de fome”, ou “Estou morrendo de saudade”, ou “Estou morrendo de vontade de comer pizza”? Pois é, mas tem gente que leva a coisa ao pé da letra e resolve morrer também de e por amor. Amor por quem? Por si própria com certeza é que não é. Pelo outro? Ele não merece. Não sei quem é, mas não merece. Ninguém merece.
Conheci uma mulher que colocou fogo no corpo porque descobriu a traição do marido. Ela não morreu, e ainda ficou cheia de marcas horríveis, e ele deixou-a para viver com a amante. Valeu a pena? Claro que não. Conheci outras duas que se entupiram de comprimidos e tudo o que conseguiram foi uma horrível lavagem estomacal e uma bronca do médico. Quanto aos maridos, um foi embora, e o outro, ainda que continue com ela, não deixou de galinhar por aí. Ai que coisa triste!
Faço mil loucuras por amor (já fiz tantas), mas não esperem que eu morra. Não está nos meus planos cortar os pulsos, me jogar do décimo andar, dar um tiro na cabeça, tomar veneno de ratos ou tomar outras atitudes que coloquem minha preciosa vida em risco. Quando amo é pra valer, mas nenhum amor vale ou valerá o meu viver.
Amor pra mim é sinônimo de vida, não de morte.