Sthefany e Larinha (Kit Lilás I )
As duas têm a mesma idade. Uma diferença mínima porque Larinha completou quatro aninhos no dia 05 do mês de maio e Sthefany no dia 27. Como são engraçadinhas quando estão brincando! Ambas estudam no mesmo colégio e, às vezes, fazem as tarefas escolares juntinhas, aqui em casa. Uma de suas diversões prediletas é assistir aos vídeos de historinhas de contos de fadas, de princesas e príncipes. Sthefany possui uma boa coleção de vídeos, presente de seu tio Germano Sachs, que chama de Tio Mano. Já sabe contar a Cinderela, a Branca de neve, a Bela adormecida, A Bela e a Fera, as travessuras da Mônica, a vida “chic” da Barbie e a da princesa Rapunzel.
Ontem, foram mais adiante e resolveram dramatizar “Rapunzel”. Primeiro assistiram ao vídeo. Precisava ver a atenção com que se deliciavam mergulhadas naquele mundo mágico de fantasias. Seus olhinhos não se desviavam da telinha, dando a impressão de que, dessa vez, tinham um objetivo que implicava em responsabilidade. Seguiam passo a passo o desenrolar da história. Ao terminar, deixaram na narração a bruxa que virou madrasta e passaram a dramatizar a parte principal representada pelos protagonistas.
_ Larinha, você vai ser o José porque seu cabelo é curto. Eu vou ser a Rapunzel porque meu cabelo é grande _ Fala, jogando os cabelos para os lados.
_ Mais eu não posso subir no teu cabelo porque não é grandão!...
_ Ah! Espera aí... _ Sthefany pega seu lençolzinho e amarra na cabeça, fazendo uma longa cauda.
_ Pronto! Virei Rapunzel! _ diz, exibindo seu “cabelo grandão”...
As duas bateram palmas, sorrindo e pulando. Sthefany foi à cozinha e pegou uma frigideira. Na história, a princesa ama o príncipe e já o havia recebido na torre onde estava escondida pela madrasta. A bruxa havia dito à princesa que o rapaz não era príncipe e sim um ladrão, porque roubara os rabanetes de um comerciante.
Começava a encenação da peça teatral.
Sthefany subiu em sua cama, que servia de torre do castelo.
O príncipe José ( Larinha) chega e chama com ansiedade:
_ Rapunzel! Rapunzel!!! Joga tuas loiras tranças para eu subir!
_ Anda, sobe logo, antes que a madrasta veja _ diz a princesa jogando as tranças de lençol.
Larinha (José) sobe na cama e Sthefany (Rapunzel) ao lembrar a bruxa dizer que ele era ladrão, manda-o embora e bate fortemente com a frigideira na cabeça de José:
_ Vá embora! Você não é príncipe! (imitação da história).
Larinha começa a chorar, mas Sthefany a reprova:
_ Desmaia, José! Não é pra chorar, é pra desmaiar... Não viu na história? Anda, desmaia! O príncipe não chorou, ele desmaiou!
As mães das atrizes correram para resolver aquele final de cena, que não foi feliz.
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Diante do que acabamos de ler e de assistir, torna-se claro para nós, que a violência está enraizada não somente nas favelas da vida real, mas também nas inocentes historinhas de contos de fadas, que levam as crianças a cometerem pela imitação, atos violentos não condizentes com sua idade e formação. São necessários cuidados redobrados quanto à escolha de entretenimento para nossos filhos ou alunos, orientando, mostrando-lhes o que está certo ou errado, a fim de que o aprendizado seja sadio e proveitoso. Tomar uma atitude nesse sentido, significa estarmos cooperando com o bem-estar das nossas famílias e da sociedade em que vivemos, num ato de cidadania em busca da Paz.
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Maria de Jesus Araújo Carvalho.
Fortaleza, 06/06/2013.