VIDA; O BEM MAIS PRECIOSO.
Tive consciência desde cedo que somos pó animado, que inalou oxigênio e incorporou vida que pensa, como conceituo nossa passagem.
Passeio pelos meus livros e os que foram de meu pai nas estantes de minha casa em meu escritório. Já não são tantos os livros, doei aos estudiosos muitos, não se represa a educação e a formação. Não surgiram para a estagnação.
Pego um volume que sei ter dado ao meu pai, “Trechos Selecionados de Vieira”, de Mario Ritter. Excelente seleção. Tenho os “Sermões de Vieira “ em quinze volumes, eram livros de meu pai. Abro a seleção que presenteei e leio anotado por meu pai: “ Oferecido por meu filho Celso no natal de 1958”. Tinha eu dezessete anos. Conhecia já a envergadura intelectual de meu pai. Abaixo de seu registro outro, meu, sem data, tenho esse defeito, não lanço datas, feito com certeza no decorrer de outras investidas ao acervo, nesse verbo: “Meu querido pai, estejam nossos espíritos em comunicação perene, por suas obras, predileções, escolhas e indagações. Estejas com Deus”.
Invado o monumental pensamento de Vieira, e leio o “Sermão da Sexagésima”, pregado na Capela Real em Lisboa, 1655: “Notai. Esta nossa chamada vida, não é mais que um círculo que fazemos de pó a pó; do pó que fomos ao pó que havemos de ser. Uns fazem o círculo maior, outros menor, outros mais pequeno, outros mínimo: De utero translatus ad tumulum: mas ou o caminho seja largo ou breve ou brevíssimo, como é círculo de pó a pó, sempre e em qualquer ponto da vida somos pó. O dia que faz a vida, esse mesmo o desfaz. Os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet”.
O dia - leia-se tempo, movimento - que impulsiona a vida, e a torna pó, é o mesmo que fecha a vida. Pó levantado, pó caído.
E adverte o maior orador sacro do mundo que o vento da fortuna se cresce pode virar tempestade. E quantos buscam a fortuna de todas as formas? A fortuna em sentido lato. Não nos esqueçamos de nossas origens, de que somos pó, esmague-se a ideia da soberba e da vaidade.