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SERÁ QUE MORRI?
Ysolda Cabral
 

 
No espelho retrovisor, minha cara. Que cara esquisita! Essa cara não é minha. Tirei os óculos, limpei suas lentes. Recoloquei-os. Olhei novamente, atentamente, e, antes que minha mente processasse a imagem, o trânsito andou. Nem a buzina de um condutor mal educado, nem o seu grito me aborreceram. Estava preocupada demais com a cara que há pouco vi no retrovisor do meu carro.

Aquela cara, decididamente,  não era a minha! Mais de jeito nenhum! Nunca fui de ter duas caras! Ponderei.  Fui de ter muitas, várias, como todo mundo. Cara de criança, cara de adolescente, cara de mulher que nunca abriu mão de um batom vermelho, só ultimamente... Cara de mãe...

Mas a cara que eu vi era de uma completa desconhecida. Liguei a seta para a esquerda e retornei. Em casa, tirei os óculos escuros, coloquei o de uso sem sol e corri para o espelho do banheiro. Lá estava a minha cara igualzinha. Igual, igual, também não!  É exagero.Contudo, era a minha cara com certeza! 

Fui até a cozinha, comi uma pequena fatia de bolo de brigadeiro pra me acalmar, bebi um pouco de coca-cola zero – pra dá o equilíbrio – e, corri pro carro. Já estava atrasada para o trabalho. Antes de dar a partida, toda contente e feliz da vida, me olhei novamente no retrovisor. Perdi a fala, os movimentos... Pensei: estou acabada. Será que morri?

 
Vi minha filha da janela do seu quarto fazer um aceno e pedir para que eu não fosse ainda. Aquilo me doeu demais. Senti o Tum... Tum do Tambor do Encantado disparar. Como? Eu não estava morta?! Tentei me mexer. Não consegui. De repente escutei a voz de minha filha junto de mim que dizia:
 
- Mamãe pegue o seu óculos e devolva o meu!