Fim da Solidão – Parte 2

Veridiana recebe a visita dos sobrinhos entusiasmada, afinal, para quem se viu sozinha nada melhor do que reencontrar parentes tão próximos. Passam um dia maravilhoso na jóia ribeirinha do rio Paraná, com a tia Veridiana a tiracolo. Almoço a bordo do barco Itamaraty, o passeio encanta a tia, mesmo morando na cidade nunca tinha feito o passeio.

Rodrigo, sobrinho de Veridiana conta o motivo da visita. “Tia, nós viemos com o propósito de convidar a senhora para morar com a gente.”

“Fazemos muito gosto... olha já arrumei um quarto só para a senhora ficar.”

Doralice fica com os olhos lacrimejados, o quarto de Lívia sua filha morta no Ano Novo está pronto esperando a nova hóspede.

Malas prontas. Pouca coisa a tia ajuntou durante a sua vida.

Dia seguinte tudo no lugar... Doralice prepara um almoço especial para Veridiana. Os afazeres a deixam entusiasmada. A semana passa e Doralice reencontra a alegria. Aqui para nós, ela sempre foi uma pessoa eletrizante... Sua mãe conta que ela havia feito cursos de teatro e de circo. “Não foi pra frente... Dora casou muito jovem!”

Saudade... a tia tem saudade da sua terrinha. Vive amoitada pelos cantos... perde o brilho. Dora preocupada resolve trazer o circo de volta a vida da tia e da sua família. Começa a contar para a tia certas histórias... Fala alto, a tia esta surda, inimiga mortal do aparelho de surdez... Não o coloca, mesmo!

“Tia Vivi, o Rodrigo esta me traindo... ele, anda se perfumando, vestindo roupas de missa para sair durante a semana... ele arrumou uma amante, uma biscate...!”

“Cruz credo, Doralice. Rodrigo é homê bão, pai exemprar, ele não troca você, não!”

O sinal da cruz é feito várias vezes pela tia.

Doralice convida seus vizinhos para assistir a apresentação que vai fazer para a tia. Prepara uma mesa de guloseimas para completar a festa.

Rodrigo, ah!, esse promete como ator. Passa pela tia impecável com o seu terno antigo do casamento carregando uma rosa de plástico nas mãos. Chega perto de Veridiana e lhe dá um beijo na testa.

“Tiaaaaaaa vou jogar buraco com os amigos, avise a Doralice, que hoje vou chegar de madrugada.”

“Pra joga esse tar de buraco precisa ir assim todo formoso e perfumoso?”

“Sabe como é tia, os amigos merecem, afinal, é sempre bom mudar o traje.”

Enquanto isto, Dora se veste no quarto às escondidas... um micro vestido vermelho, sandália dourada, unhas artificiais de um vermelho rubi, peruca loira platinada... e muita maquiagem. Doralice sai pela porta dos fundos.

Na sala os vizinhos assistem às cenas sorridentes.

Palmas... palmas... Ricardo, o filho do meio do casal vai abrir o portão. A loira entra na sala chega pertinho da tia

“Cadê o Rodrigão... O fofo não apareceu no nosso encontro... vim aqui para buscá-lo...”

Vira a bolsa, exibe os beiços avermelhados, pisca para a tia.

“Que o cê qué com meu sobrinho..., biscaton? Ele é um homê pai de famía.”

“Quero beijar a boca daquele homem, acariciar seu peito, arranhar a sua ... Onde ele está?”

“Ele num tá aqui, não! Vá embora, se a muié dele chega, ela vai vira um bicho... ela tá com ciúme dele. Doentio!”

A platinada mostra que é boa no rebolado. Veridiana segura o pé tira o chinelo, levanta e bate na loira.

“Vá embora, fiote do cruz credo, aqui é casa de famiá. Vorte pro inferninho, biscaton.”

A loira saí... Doralice se esconde atrás da cortina da sala para simular uma briga daquelas, com a tal... gritos, socos em almofada... gemidos...

A loira volta toda amassada, despenteada... dolorida.

“Pois é bicho ruim num falei que a muié dele é ciumenta...”

Deste dia em diante a vida da tia toma outro rumo com as encenações... voltar para Presidente Epitácio... só para passear.