O Catador de Lixo e Eu
Ontem me encontrava mais reflexiva que o costumeiro...
Sei lá, parei para observar as cores do mundo, o colorido da vida, as pessoas bonitas ao meu redor, as árvores frondosas, o infinito...
Quando me dirigia ao meu trabalho, casualmente cruzei com um ser humano espetacular: um Catador de Resíduos - Lixo.
Ele nem imaginava que eu estava 'perseguindo-o' por alguns minutos e observando todos os movimentos que ele fazia enquanto magestosamente empurrava sua carroça.
Percebi que ele não estava descontente com o que a vida tinha reservado para ele.
Contrariando minha expectativa, percebi que ele estava feliz, semblante sereno e cumprindo dignamente seu papel na sociedade.
Num dado momento, observei seus músculos contraídos.
Era despendida muita força física para poder mover aquela carroça. Ela estava superlotada. Não havia apenas papelão; mas ferro, alumínio, vidro e papel comum.
Curiosamente, chamei: - Cidadão, cidadão! Ele não me respondeu.
Insisti: - Moço, moço! Ele também não me ouviu.
Continuei:- Cidadão, cidadão!
Ele, num rompante e sem saber quem estava chamando outra pessoa, virou-se e seus olhos bateram exatamente nos meus.
Eu disse:- Boa tarde, cidadão! O senhor poderia parar um pouco, por favor?
Pois não, senhora! Respondeu.
Questionei: Não me leve a mal, nem tenha-me por curiosa, mas o senhor trabalha quantas horas por dia arrastando esta carroça?
- Começo às 6 da manhã e só paro às 10 da noite, madame.
- Como o senhor faz para revender seus resíduos? Perguntei.
- Ah, senhora, já tem uma pessoa que compra tudo o que eu encontro no lixo.
- Me desculpe, moço, mas quanto o senhor consegue 'apurar' por dia em seu trabalho? Questionei.
- Uns R$10,00, R$15,00. Não passa disto.
-O senhor é feliz?
- Muito. Muito mesmo! Seus olhos brilharam ao me responder.
Emocionada e convicta de que a felicidade está, não nas riquezas, mas nas pequeninas coisas que por vezes negligenciamos ou nos passam despercebidas, sorri para ele e disse: - Posso lhe dar um presente?
- Pode sim, senhora!
Saquei a mão na bolsa, peguei uma cédula que era maior que a diária dele, entreguei-o e disse: - Seja feliz e continue colorindo a vida de pessoas que por vezes reclamam da vida sem nenhum motivo aparente e nem justificável.