MULHERES DA PRAÇA
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(texto extraído do livro CRÔNICAS COMPROMETIDAS COM A TUA VIDA, in Carlos Costa – 2ª Edição, Ed. Nacional – PA, 1990), realizada com o apoio cultural de George Barreto e David Fernandes Júnior – da empresa Intercontinental (instrumentos musicais).
Mulheres da praça, eu gostaria de saber o que vocês fazem o onde ficam os filhos que vocês fazem; talvez sozinhos perdidos no mundo ou dentro de ninguém. Eu gostaria de trocar idéias e perder horas e horas acompanhando vocês com os olhos e, quem sabe, pedir emprestado um minuto de atenção.
As mulheres da praça parecem despreocupadas, cruzando as pernas e mostrando tudo o que não têm mais para mostrar, deixando aos olhares curiosos dos homens das praças as suas pernas quase sempre marcadas, seus lábios sempre recheados de batons e seus cabelos desalinhados do último encontro.
Umas passeiam discretamente e outras inventam de inventar que estão inventando alguma coisa mais, no fundo, eu sei, elas estão é me observando a observá-las. Aparentemente são meninas as mulheres da praça. Conserva no rosto um tipo de sorriso que não é um sorriso e se confundem com as árvores da praça.
São livres e libertas as mulheres da praça e parecem ser a inocência do mundo, perdidas dentro do mundo e presas dentro de si, quando não estão presas por outros motivos. Há homens que as ignoram, outros que se aproximam e outros que as usam.
Ah, como é difícil entender as mulheres da praça, que se confundem com o canto de um pássaro teimoso que todos os dias canta para o meu sorriso. Elas não têm passado e, se têm, preferem escondê-lo. Também não têm futuro, nem elas e nem os filhos que elas fazem.
Umas nunca abriram os olhos, nem para beijar, porque não tiveram tempo; outras só para chorar, e mais outras, só para beber e fumar. Como eu, elas nunca sentiram a força do verdadeiro amor, não se entregaram por inteiro, não possuem cheiro, são diferentes e quase não têm nome.
Muitas trazem o ventre inchado com as entranhas completamente vazias. Outras trazem o ventre vazio porque houve um despejo, mas não importa. Elas não têm nome, por isso as chamo de as “mulheres da praça”, e seus filhos não têm pai e eu os chamo de “filhos do mundo”, nascidos para viver, sofrer e morrer.
Meninas sozinhas, perdidas na minha praça e dentro dos homens, elas são estranhas e parece que não dormem. Eu, ao acordar, já as vejo sentadas, umas procurando dar destaque para as pernas, outras para a cor da calcinha que usam por baixo como uma roupa transparente e outras preferem esperar o sol, como se ele lhes dissesse que as ama profundamente.
O que fizeram as mulheres da praça? Por onde foram? Com quem estavam? Sonolentas, elas se confundem entre as árvores da minha praça, caminham sem rumo, conversam coisas que eu não entendo, contam dinheiro e sonham com um amanhã- se que elas têm tempo para sonhar. E eu, sentado ao longe, as observo atentamente, sem entender de onde vieram as mulheres de minha praça.
Triste, teimoso, um passarinho canta para alegrar mais um dia das mulheres de minha praça, mas elas não escutam o seu canto e ele se vai, como dando um adeus àquelas que não lhe entenderam, como não as entendem as pessoas que passam pela minha praça, olhando-as com os olhos de reprovação. Mulheres da minha praça!