EDUCAÇÃO E CIDADANIA
Não quero aqui dissertar sobre Educação como se fosse um especialista. Não sou. Sou Pedagogo e trabalhei em sala de aula, na rede pública por 30 anos. Simultaneamente exerci a função de Diretor de Escola da Rede Particular por 18 anos. Mesmo sendo Diretor de Escola nunca abandonei a sala de aula. Não era paixão, como muita gente diz. Era uma questão de profissionalismo. Se tem de fazer, que o faça bem feito. Não quero também cair na mesmice de escrever sobre Educação na semana em que começam as aulas. Ou então no Dia do Professor ou outro dia qualquer criado pela Sociedade de Consumo para incrementar o comércio. Educação, (assim como Pai, Mãe, Namorado, etc.) não tem Dia. Todo dia é dia. Outra coisa. Não estou preocupado em escrever um texto didático (com começo meio e fim ). Estou pensando alto e por isso nem sempre as ideias estarão bem encadeadas. Estou colocando no papel aquilo que passa ou deveria passar pela cabeça de um cidadão comum. Antes de mais nada sou pai de família e, com ajuda de minha mulher, criei e eduquei meus quatro filhos.
Pois bem, sei que vivo num país subdesenvolvido, (teimam em chamá-lo "em desenvolvimento" ou "emergente ", como se o uso de palavras adequadas mudasse a situação das coisas), cujas características passo a descrever: Um índice alto de analfabetismo, de mortalidade infantil e principalmente de suntuosidade de prédios públicos. Veja por exemplo, Brasília (embora já com 50 anos), o prédio do Banco Central. Bem mais perto, nossa Câmara Municipal de Paraguaçu Paulista e, pior ainda, não é só aqui. É em todo o País . Detalhando: O que é analfabeto? Este conceito depende muito da imaginação de nossos políticos e técnicos. Se a coisa não está bem, muda-se o nome. Quem sabe melhora... Ou então se enrola... Sabiam que agora inventaram um tal de ANALFABETO FUNCIONAL ( aquele que lê mas não entende nada do que lê). Então... Grande descoberta!!! Cheguei a pensar que tinha esquecido da Saúde. Mas depois me lembrei que Mortalidade Infantil não é uma questão de falta de sorte dos pobres. É um dos sintomas da qualidade do trato que se dá à Saúde Pública. Um país não tem problemas de Saúde ou Educação, isoladamente. ELE TEM PROBLEMAS. Andam sempre juntos. A única diferença que vejo é que a saúde privada vai bem. A saúde privada no Brasil é referência mundial. Fomos um dos primeiros a fazer transplante de coração. Temos hospitais (Albert Einstein, Sírio Libanês, etc.) que pouco perdem para os melhores do mundo. Agora a saúde pública... Não preciso dizer... Já a Educação não teve tanta sorte, salvo raríssimas exceções. As Universidades Públicas têm FAMA. As Universidades Privadas tornam-se verdadeiros impérios econômicos. Ora dizem que o papel das Universidades é a pesquisa. Ora dizem que é a formação profissional. Mas quando se conversa com recém formados a frustração é geral. A maioria diz que o que ensina de fato é o campo de trabalho. Sem contar que temos agrônomos, engenheiros, advogados e outros profissionais de nível universitário, tentando a vida em "traillers" de vender lanche.
Quando, pelo início da noite, vejo hordas de jovens lotando ônibus para irem às cidade vizinhas, cursar faculdade, fico deveras preocupado. Que mercado de trabalho vai absorvê-los? Existe por acaso alguma política de planejamento de absorção de mão de obra especializada? E o paradoxo: São os menos favorecidos economicamente que cursam as proliferadas faculdades privadas. A entrada para as Universidades Públicas só é permitida para quem tem poder econômico capaz de custear uma escola de nível médio (privada) que usa todos os seus recursos para treinar seus alunos para vencerem o vestibular. Uma espécie de paletó e gravata pra tirar fotografia. Pagam pra passar, não pra se educar. As propagandas deixam isso bem claro. A qualidade da escola é medida pelo número de alunos aprovados nas Universidades Públicas.
Outro dia um juiz deu ganho de causa a uma escola (privada) que processou a família de uma adolescente, em 1 000 Reais, por usar celular em sala de aula. "A Tecnologia estava atrapalhando o método anacrônico de se dar aula". Dar aula significa, para essa escola, cumprir um rigoroso programa de conteúdo que vai, equivocadamente, ser cobrado no vestibular. Qualquer EDUCADOR usaria essa Tecnologia para EDUCAR. Poucas escolas lembram-se (ou não sabem) que conteúdo é tão simplesmente uma ferramenta de se atingir objetivos educacionais. Gostaria de aproveitar a oportunidade para comentar alguma coisa sobre ensino médio. Acho que do ensino médio privado já dei uma ideia. Agora o público... Esse vai de mal a pior. O ESTADO gosta muito de números. É uma especialidade dele. Quanto maior for o número melhor. Gosta de dizer, por exemplo, que criou 450 vagas do Ensino Médio numa comunidade de 20 mil habitantes. Aí o professor constata que são apenas 10 classes ( 45 alunos em cada uma ). Com essa quantidade de alunos em cada sala, o professor precisa ser muito bom pra conseguir fazer a chamada. Dar aula já é outra conversa. Aprender então é coisa rara. E educar? Educar é um vocábulo não utilizado pelo ESTADO. O excesso de alunos por classe não é apenas uma questão de número. É também uma questão de economia. Economiza energia, economiza salário de professor, economiza escriturário, economiza servente, economiza diretor, etc. Mas na hora de puxar os números (de preferência no palanque) aí é tremendamente vantajoso. Há uma diferença entre o que o ESTADO oferece e o que a SOCIEDADE precisa. O ESTADO oferece escolarização e a SOCIEDADE precisa de EDUCAÇÃO. Essa escolarização em massa chama-se, equivocadamente, de democratização do Ensino.
Quero deixar em separado um parágrafo para um artista principal (embora para o ESTADO um simples coadjuvante): O PROFESSOR. A atratividade para a carreira de professor está em vertiginosa queda. Apenas 2% do contingente de universitários escolheram a carreira de professor. E ainda pior. São os de menor poder aquisitivo e os de menores notas (o processo pra se chegar às notas é outra catástrofe). Se quiser conferir é só consultar os comentários de Gilberto Dimenstein, na CBN, pela Internet. Nós aqui podemos começar nosso comentário por dois pontos: Pela história do magistério ou pelo salário. Vamos começar pelo salário (usando S. Paulo, o estado mais poderoso da união). Não vou usar números porque essa não é minha especialidade. Só sei dizer que, com o salário que se paga a um professor, arrimo de família, com mulher e dois filhos, dificilmente ele conseguiria dar Educação de qualidade a esses dois brasileirinhos. Seria como um plantador de feijão que tivesse de alimentar seus filhos com farinha de mandioca. A renda obtida com a venda do feijão não daria para se comprar um alimento de melhor qualidade. Aí está então, a razão porque ninguém quer ser professor. Outro ponto é a história. A profissão de professor durante muito tempo foi destinada exclusivamente às mulheres. Essa era uma tradição da Sociedade. Só que, se você está pensando que estamos falando dos séculos 18 e 19, está enganado. No final dos anos 70, durante uma greve do magistério, um governante brindou os jornalistas que o entrevistavam com esta joia de preconceito: O ESTADO NÃO PAGA MAL AS PROFESSORAS, ELAS É QUE SE CASARAM MAL! Dias depois, acho que com o intuito de se redimir, ao dirigir-se ao magistério não poupou uma linguagem coloquial e carinhosa: MINHAS PROFESSORINHAS DO ESTADO DE S. PAULO!... Os governantes dos mandatos seguintes (exceto um) só não foram piores porque "não quiseram perder tempo com coisas sem importância".
E finalmente o Ensino Fundamental, uma espécie de laboratório para a troca de nomes. Para narrar com precisão, precisaria de um manual de instruções para conviver com as mudanças sem cometer falhas. Já mudou até de "Dono". Passou do Estado para as prefeituras. A situação funcional dos Professores virou um purgatório (reservei o inferno em caso de piora no futuro). E a epopeia dos Pais, Alunos e Professores não termina aí. Prometo (isso não é uma ameaça) voltar, oportunamente, com muito mais a comentar. Não sou especialista como já disse, mas dessa lida tenho muito o que contar.
Para encerrar deixo claro que os governantes têm tentado melhorar a Educação, só que por caminhos, que talvez fujam ao alcance da Escola. Na impossibilidade de ter e executar uma política de distribuição de renda começou a desenvolver tarefas que são de responsabilidade da Família. Alimentação, transporte, vestuário, material de uso pessoal etc. Sabemos que uma distribuição de renda justa, é tarefa que já foi tentada por outros governantes e o choque de interesses de classes foi tão grande que os resultados foram extremante negativos para todos...
E daí? Como é que fica? Perguntarão os leitores. Oportunamente narrarei um "Causo", que mais parece obra de ficção, mostrando-lhes os sinais (sintomas) de que a Educação realmente assumirá o papel que a Sociedade lhe delegou. (Oldack/21/02/010). X Reeditado em 05/06/013) XXX