Vai-te embora ó melga

Zummm… zummm…zummm!

- Oh malditos bichos que não deixam dormir!

O calor faz com que me destape, mas um raide de duas ou mais melgas, em voo picado, faz com que eu sacuda os braços numa tentativa de eliminar, mais um ataque destes kamikazes, sugadores de sangue. Os braços esbracejam, numa tentativa desesperada de afastar estes micro vampiros que me atormentam. No calor da refrega, acabo por me esbofetear, tentando numa atitude desesperada, evitar que façam do meu rosto uma pista de aterragem.

Cansado e cheio de comichões, levanto-me. A meu lado, a minha esposa protesta por eu acender a luz.

Acendo a luz do candeeiro, a do tecto e mais que houvesse, para os poder ver bem. De almofada em punho, olhos bem abertos perscruto com precisão as paredes do quarto. A esposa dá uma ajuda nesta caça, desejosa que este apaga acende, acabe para poder dormir. Já nem diz nada quando me ouve um rosnar de triunfo, após ter esborrachado mais uma contra a parede e finge que não vê almofada tingida de sangue do maldito insecto. Do insecto não! O sangue era meu.

Agora despertei. Sem sono e porque sou uma pessoa bondosa, para evitar mais reclamações, resolvo ir para o computador obter mais informações sobre esta praga nocturna. Acabo por saber que são as fêmeas as causadoras de eu, ao outro dia correr para a farmácia, comprar antídoto para as dores da comichão, e eu gosto e respeito as fêmeas como ninguém. No entanto, devido à quantidade, duvido que sejam só as fêmeas, provavelmente, um ou outro macho de sexo mal definido, também se aproveita.

Mas afinal o que são melgas (como se eu não soubesse), na versão científica?

Um saltinho à Wikipédia e eis o resultado: As fêmeas do pernilongo (insecto possuidor de probóscide picador e sugador de sangue) são também conhecidas como "melgas" ou "trompeteiros.

Oh praga maldita!

Devagarinho, pé ante pé, vou ver como estão as coisas no campo da batalha. A minha esposa já ressona! Ressona não! Que ela não gosta. Respira um pouco mais forte. Sinal de que não há melga que se atreva a provar-lhe o sangue. Talvez seja de má qualidade, embora as pulgas tenham uma opinião um pouco diferente, pois são capazes de saltar de um cão para ela. Mas gostos não se discutem e as pulgas lá sabem.

É nessas alturas que por falta de originalidade lhe arremesso com mesmo dito, com que meigamente me premeia quando me queixo das melgas: «Cada um tem o que merece».

A minha filha, coitada! Herdou o sangue bom do pai e com isso divide as forças atacantes das melgas e o menos bom da mãe, mas que as pulgas lhe chamam um pitéu.

Tem dias, em que acorda como um pugilista depois de levar uma tareia no ringue. São os olhos e lábios inchados, que até me dói o coração, porque afinal, filha é filha!

Nessas noites, só sendo uma melga estúpida é que se vira para mim, quando tem ao seu dispor, sangue mais jovem no quarto ao lado.

Então! É a paz e bendigo o Verão.

Lorde
Enviado por Lorde em 05/06/2013
Reeditado em 05/06/2013
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