JÁ NÃO BASTAVA O PAPA FRANCISCO?
No dia 12 de outubro de 1492, o mundo moderno nem sonhava em homenagear as crianças ou Nossa Senhora Aparecida. Nessa data, o italiano, Cristóvão Colombo, “bancado” pelos reis católicos de Aragão e Castela, Don Fernando II e Dona Isabel I, ancorou a “Santa Maria”, a “Pinta” e a “Nina” em uma ilha da América Central, chamada pelos nativos de Guanahaní, onde hoje os bacanas vão passar férias: San Salvador, nas Bahamas, modificando, completamente, as ideias e as aspirações dos habitantes do “Velho Mundo”.
Entre as muitas consequências desse fato, citarei apenas duas: o início do extermínio dos povos nativos, e a extração e envio de pedras e de metais preciosos para a Espanha, dando início a um período de prosperidade para aquele país.
Quase oito anos depois, no dia 22 de abril, Pedro Álvares Cabral conseguiu fazer um “trem” parecido, só que chegou “ali” no Monte Pascoal, pertinho da deliciosa Porto Seguro, na Bahia. Quem viveu à época deixou escrito que “o sistema era bruto”: o povo daqui tinha de se lascar para sustentar, nababescamente, os nossos descobridores. Bem... isso foi assim até quando os mineiros ficaram injuriados, com a determinação portuguesa de que 20% de todo o ouro aqui descoberto deveria ser entregue à Coroa Lusitana. Os insatisfeitos se revoltaram e originaram o movimento que entrou para a História com o nome de “Inconfidência Mineira”. O desfecho nós o conhecemos bem: o esquartejamento de Joaquim José da Silva Xavier.
Talvez, a visão dos pedaços de Tiradentes espalhados pelos caminhos de Vila Rica tenha gerado um medo tão terrível em nossos antepassados, a ponto de ele ter se incubado em seus genes e, até hoje, nos impeça de tentar insurreições, quando, anualmente, temos de entregar 27,5% dos nossos salários ao “Leão”.
Mas isso é tema para outra crônica. A de hoje não quer versar sobre esses fatos históricos, embora deseje mostrar que os povos da Península Ibérica mamaram durante muito tempo nas tetas das suas colônias nas Américas Central e do Sul, acumulando riquezas que, originalmente, eram nossas. Hoje, não sei se por castigo divino ou por ironia do destino, os povos da Espanha e de Portugal amargam as consequências de gravíssimas recessões econômicas, aliás, como outros países da zona do Euro. Mas, deixemos Portugal para outro dia, pois hoje o que me interessa mesmo é o seu vizinho e o jogador “mais lindo do Brasil”.
Pesquisas indicam que a economia espanhola enfrenta uma recessão terrível desde o final de 2011, quando teve de aderir a um rigoroso programa de austeridade para economizar 150 bilhões de euros em dois anos, além de ter índice de 27% de desemprego da população, ou seja, cerca de 6 milhões de pessoas a verem navios. Embora depreenda-se que esteja faltando “pão” para muitos, ao que parece, o fenômeno não abrange Barcelona, a maior cidade da região da Catalunha, no Norte da Espanha.
A cidade é o maior centro industrial da Espanha e abriga um time que leva o seu nome: o Futbol Club Barcelona. Uma pesquisa realizada pela empresa alemã Sport+Markt concluiu que sua a torcida é a maior da Europa, contando com cerca de 57,8 milhões de culés (apelidos dos torcedores do Barça). Parece que não lhes faltam nem glamour e nem grana, pois, recentemente, os seus dirigentes compraram o passe do brasileiro Neymar Santos Jr. pela bagatela de 58 milhões de euros, cerca de 158 milhões de reais. Já imaginou qual é o tamanho da pilha se a montarmos apenas com notas de R$2,00?
Eu não sou catalã, não sou torcedora desse time, não sou amiguinha do Neymar, não tenho filha para sonhar em tê-lo como meu genro... Aliás, eu não tenho nada com isso, mas gosto de pensar e tenho dificuldades para entender tudo que pretere a humanidade, por isso ocorrem-me dois questionamentos:
a) Por que, enquanto muitas pessoas não conseguem ter o “pão” de cada dia, quem o tem de sobra não vê problema algum em destinar dinheiro para financiar o “circo”?”
b) Até que ponto quem não se faz a pergunta acima é corresponsável pelo crescimento da insensibilidade face ao sofrimento humano?
Quanto ao Neymar é facílimo entender por que ele é considerado “lindo” pela mulherada, apesar de ser muito parecido com os rapazes que usam bermuda Cyclone, pulseira, anel e cordãozão de prata. Quero mais é que ele seja feliz, coma o “pão” e desfrute do “circo”, que Deus lhe proporciona, mas precisava dizer para o mundo inteiro, na tarde em que foi apresentado aos torcedores do Barça, que ele quer “ajudar o Messi a continua sendo o melhor do mundo”?
O repórter da Rede Globo que transmitiu o evento chamou isso de “humildade”, mas eu chamo de outra coisa, que pode ser traduzida a partir da pergunta que veio à minha cabeça na hora: “Já não bastava o papa, oh, “inteligente”?