Aprendizado
Ela ministrava palestras há mais de 15 anos, falando assuntos diversos ligados a elevação espiritual. Mulher conceituada no meio, requisitada e reconhecida, pertencia a um alto escalão entre os demais palestrantes. Naquela tarde uma colega mais entusiasmada estendeu-se demais na apresentação de seu resultado mensal, e a reunião terminou quase uma hora mais tarde do que habitual. Ela saiu tensa e agitada, tinha que cruzar a cidade em pleno horário de rush para ministrar sua palestra para cerca de 300 ouvintes, detestaria chegar atrasada.
Tudo e todos uniam-se numa conspiração barulhenta. Semáforos todos em movimento pró comunismo, pedestres convencidos que eram figurantes de um filme apocalíptico transitavam entre os automóveis estáticos. Buzinas, sirenes e motos insistentemente buzinando como a exibir-se pelo pleno poder de seguir adiante. Eis que o semáforo muda de cor, os veículos da frente seguem e ela na esperança de também passar: “Vai..vai ...vai” e há menos de cinco metros da faixa de pedestes um veículo saindo da pista a sua direita na tentativa insana de também atravessar fecha seu caminho, tocando a lanterna de seu automóvel que instantaneamente como se também estivesse sob tensão, estilaça-se.
Caos ! Duas mulheres em pé discutindo a necessidade de seta, a lógica de mudar de pista ou não, a grosseria alheia, o cinismo, a provocação e os xingamentos. Ambos automóveis avariados, cada um assume seu próprio prejuizo e seguem a duelar ruas a fora. Nossa protagonista treme de nervoso, tentando manter o auto controle visto que o objeto de sua ira estava distante agora de suas mãos.
Chega ao seu destino, afobada, retocou a maquiagem no caminho, um copo de àgua lentamente enquanto repassa o conteúdo da palestra : tolerância, paciência,orgulho, perdoar e relevar. Que bom ! Assuntos sobre os quais ela já havia discorrído inúmeras vezes, não haveria problemas. Aspirou todo o ar que conseguiu, expirou lentamente, e adentrou o palco. Ao se certificar que o microfone estava em funcionamento, notou a presença de uma mulher na primeira fileira,não confundiria aquele vestido marrom, aquele cabelo avermelhado. Imediatamente, enquanto a mulher continuava a buscar algo na bolsa, ela se retirou do palco. Chamou um amigo palestrante :
- Por favor assuma hoje.
- Como assim ? Você é ótima neste tema, domina todos os métodos e argumentos, HÁ ANOS DISCURSA FACILMENTE SOBRE ELE.
- Desculpe-me. Não tenho a menor condição de falar sobre algo que AINDA NÃO APRENDI.
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Nota : reconhecer nossas fragilidades e falhas é o passo inicial no
caminho do crescimento seja espiritual ou profissional.
" O indivíduo consciente sabe que somente lhe acontece aquilo que é de melhor para o seu desenvolvimento espiritual."
Joanna de Ângelis