CIGANO – PASSAGEIRO DA AGONIA
 
 
 
Somente na data de hoje recebi e agradeço o e-mail do meu amigo cigano, preocupado com a minha ausência do RL, não sei se de fato preocupado ou curioso com minha ausência da escrivaninha. É muito bom saber que fazemos falta a alguém, seja essa falta boa ou ruim, do tipo daquele chefe que todos odeiam, mas quando ele falta ao trabalho logo é sentida sua falta.
Confesso que, sem modéstia, não sabia que fazia falta a alguém, mesmo porque costumo dizer que após trinta dias sem ver determinada pessoa logo a esquecemos, salvo se de fato ela foi ou é importante para nós, no caso do meu amigo cigano estou feliz por ele ter se preocupado. Aproveitando explico ao amigo cigano e aos demais, de fato estive ausente em virtude dos afazeres, precisei resolver alguns compromissos assumidos, dentre eles, as duas obras já prontas e apenas esperando a revisão da editora, afinal prometi que no mês de junho estaria publicando.
Mas estou refletindo sobre as palavras do meu amigo cigano que falou a respeito de ódio, isso mesmo, esse sentimento desprezível que em certos momentos temos em relação a várias coisas, a mais normal em relação a outro ser humano. É péssimo sentir esse sentimento, mesmo porque não nos leva a lugar algum, além de, como citou meu amigo cigano faz muito mal ao coração, nos faz pecar, e em nada contribui para o sucesso de cada um, então para que sentir ódio? Eu não sinto ódio de ninguém, aliás sei perdoar quantas vezes for necessário, e quando digo para Deus que perdoei não posso mentir, porque Ele conhece meu coração.
Meu amigo cigano vive um dilema, ou melhor, vive sob a sombra dos receios, de ver seu nome publicado em matéria literária, de servir de gozação para o povo de uma cidade, de ser processado por um crime que ele diz que não cometeu e ter que se justificar perante a sociedade, sua família, e tentar deixar bem esquecido o que ele foi no passado. Na verdade é um passageiro da agonia, vive a se perguntar será que é hoje? Ou quando será? Sobre isso fiquei a imaginar e cheguei a conclusão que de fato deve ser horrível, mas quero dizer ao meu amigo cigano que no que depender de mim jamais mudarei meu conceito sobre sua pessoa, não quero saber do seu passado, seu sofrimento não enche a minha barriga de pão, se fui covarde ou severo com ele vou pedir-lhe perdão, mesmo porque aqueles que assistem nossa desunião apenas dão risadas de nós enquanto destruímos uma amizade sem interesses escusos, apenas nas pessoas que somos.
Um dia no passado de vinte anos, eu e meu amigo cigano chegamos em sua casa e sua filhinha veio ao nosso encontro e falou que um determinado apresentador de TV estava falando mal da sua pessoa, acusando-lhe de vários crimes. Revoltado, com os olhos cheios de lágrimas, ele pegou o telefone e ligou para o dono da emissora que apenas desconversou e prometeu que cessariam os ataques. Dias depois, na principal avenida da cidade encontrei com seu algoz, que do nada veio na minha direção querendo me fazer medo, mas encontrou pela frente alguém que o colocou no seu devido lugar, e fiz isso por ser amigo do cigano, por amor ao próximo, por querer dar um basta na angustia e sofrimento do amigo, sem nada em troca, velhos tempos.
Por fim recomendo ao meu velho amigo cigano, dizer para os outros se despirem do ódio, rancor, mágoa, ressentimentos é fácil quero ver você também praticando, tente exercitar o verbo CEDER, não é tão dolorido, quando você ceder certamente também receberá uma cessão em troca, e viverá feliz para sempre, considerando que já tens dinheiro, posses, agora é só ver os filhos amadurecerem, os netos chegarem e a velhice para que você possa passar suas experiências vividas aos que você ama, reflita!