Mãe Absoluta
A Natureza é o grande cérebro. A máquina mais potente e absoluta. Responsável, em primeira análise, pela reprodução dos mais diferentes tipos de seres. Animados ou inanimados. E pela perpetuação de cada espécie. Através do aparelho reprodutor ou capacidade reprodutiva inerente a cada uma.
A rigor, quem não teve filhos não precisaria nem se preocupar com a replicação de seu código genético. Porque, de certa forma, todos são nossos filhos. Assim como temos todos os pais do mundo. Nós é que inventamos esse fracionamento ou segregação biotípica a que atribuímos os grupos étnicos, e depois os conjuntos familiares, referidos aos diversos pontos do planeta. Para efeito da satisfação da nossa exigência pessoal ou predisposição também natural à diferenciação. Sendo essa também uma característica ou singularidade que nos é concedida pela Natureza. Que estabeleceu, no caso dos humanos, o sofisticado aparato intelectual com que chegamos ao mundo e que nos dá condição de coexistirmos e nos desenvolvermos segundo, por exemplo, o que conhecemos por padrão cultural.
Sabemos que as modificações anatômicas verificadas na espécie humana, bem como as genéticas, são atribuídas à Natureza. E se puderem estar relacionadas a fatores como clima, regiões geográficas ou mesmo tempo de vida, também à Natureza estarão atreladas. Por outro lado, podemos dizer que todo o “progresso” conhecido, as invenções, os descobrimentos, os conflitos entre os povos, tudo pode ser creditado ao homem – a despeito de todo esse potencial, mais um produto da Natureza. Que se responsabiliza também pelos efeitos atmosféricos, meteorológicos ou naturais que muitas vezes não podem ser controlados pelo homem que ela produziu.
Esse homem, não sendo muitas vezes capaz de se conhecer e administrar, investe contra a própria espécie, assim como contra tudo o que encontrou no planeta, demonstrando incapacidade de desfrutar ou conviver com os elementos da vida que lhe foram disponibilizados.
Nesse sentido, poderíamos supor que a Natureza seria uma espécie de “mãe ursa”. Na medida em que tudo deu ao homem. Até a capacidade pessoal de se desentender e, no limite, se autodestruir.
Contudo, talvez não seja bem assim. Porque o homem tem também a capacidade de se reprocessar e optar por coisas que o tornem maior. A partir do conhecimento que possa adquirir de si mesmo. O que o levará, além do plano pessoal, à inevitável aproximação com a Natureza, no que se refere a tudo o que vemos ou experimentamos. Comprovando-se assim o desígnio natural de a mãe estar sempre esperando pelo filho de braços abertos.
Rio, 03/06/2013