A menina grávida.
De onde ela veio, não sei. só que de repente nossos olhos se encontraram.
Os meus inexpressivos, pois na vida, nada mais poderia causar surpresa.
Vivera muito principalmente à noite.
Ela também, pois embora com tenra idade, via-se que já tivera sua cota de sofrimento. Deveria ter no máximo quinze anos, embora aparentasse ter menos.
Por pouco tempo ficou parada, olhando a enorme barriga.
Deveria estar já de oito para quase nove meses, de gravidez.
Estava maltrapilha e com chinelinhas rasteirinha.
Deveria estar com fome, frio sei lá.
Antes que eu me propusesse, a ajudá-la deu um pequeno sorriso, e continuou sua caminhada para lugar nenhum.
Pensei: - como chegara àquela situação?
Mesmo quando olhava a barriga não senti por parte dela nenhuma emoção.
Caminhei em direção contrária a ela e fui para minha pensão.
Noutro dia durante o café comentei, o ocorrido.
-Ouvi, com tristeza, o que outro morador falava:
-Se for à mesma pequenina de cabelo loiro?
Sim acho que era ela.
-Pulou do viaduto, morreu com a criança.
“E se eu tivesse me proposto a ajudá-la?”
Talvez ainda estivesse viva.
Deixa para lá.
Oripê Machado.
Veneno de Cobra.