PEQUENA MOLHADA (essa gota d’água...)
Olha que Céu azul! Ainda bem que encontrei essa partícula de poeira. E não é resto de queimadas!
Enquanto caio, fico pensando: dar um passeio no caminho de minha existência é como dar a volta ao mundo da física, da biologia, da ecologia... Acho que, até mesmo, da sociologia. É como penetrar nos mistérios da própria vida.
Rolo da pétala de uma flor do campo, saio da bica nos fundos daquela palhoça perdida em meio à floresta ou da torneira dourada daquele “big” apartamento em frente ao mar, meu pai maior. Nesse último caso, cuidado! Se caio por descuido, por muito tempo, acabo dando um grande prejuízo.
Mas o que gosto mesmo é de me esparramar no chão e me transformar em dezenas de irmãs. Você já viu que onda legal se faz quando caio sobre minha mãe? Tire uma foto. Ah! a máquina deve ser bem rápida, a onda passa bem rapidinho.
Pra muitos meu barulho é ensurdecedor. Você já deve ter ouvido o barulho do meu tombo no silêncio da madrugada. Tem gente capaz até de enlouquecer se caio a noite toda. Mas pra outras, meu tombo é música doce e hipnotizante - como dormem bem ao me ouvirem naquelas noites de chuva leve.
Tenho, também, muita força. Derrubo formiguinha da folha e, aos poucos, posso esculpir na mais dura pedra que em minha trajetória se coloca. Mas, quando me junto a minha mãe, posso derrubar montanhas ou gerar “kilowatts” pra seu conforto. Você já viu que espetáculo de força é a “pororoca”? – o belo encontro de meus pais.
Muitas vezes fico triste ao ver que, por descaso, após algum trabalho, não me purificam e acabo trazendo doenças e desastres ecológicos, faço parte até de chuva ácida. Mas alegro-me ao ver ações que denotam a compreensão de que sou vida. Tem até o dia da comemoração internacional de minha consistência - 22 de março o dia mundial da água.
Mas minha sina mesmo é voltar para os céus. Muitas vezes me junto às minhas irmãs e, com a grande mãe, fico muito tempo por baixo da terra, sem ver a maravilhosa luz do sol. Um dia saio, pois meu destino é o mar.
Bendita essa tensão superficial que me faz existir, bendita essa força gravitacional que me leva para o mar e bem aventurados aqueles que, com respeito, aproveitam-se da minha solubilidade. Sou um pingo de vida e um mar de esperança.