UMA NINJA EM MINHA CAMA

Domingo, 6:00 h da manhã, em principio um sonho com alguém acariciando meus cabelos, seus dedos macios deslizando em minha face, seu perfume e aquela sensação agradável de inequívoca presença feminina. Aos poucos o sonho se desfaz e a realidade surge trazendo um misto de mistério e surpresa. Surge seu rosto emoldurado por um sorriso maroto e seus olhos encontram os meus ainda sonolentos, tentando me situar diante da inusitada e desconcertante visita. Havia uma mulher sentada tranquilamente na minha cama, não sei por quanto tempo ali estava me acariciando e revolvendo meus cabelos.

Agora finalmente acordado, refeito da surpresa consegui falar.

- Você? Como entrou aqui? ...

Ela suavemente pousou a mão sobre minha boca.

- Calma! Sou eu...fica frio. Entrei pela janela do banheiro, estava aberta e você sabe porque me chamam ninja. Entrei pela garagem saltei o muro e aqui estou. Ainda bem que sou eu...você precisa ser mais cuidadoso.

Moro em um pequeno cômodo no térreo de uma construção antiga, creio que do tempo do império de paredes largas que tornam o ambiente agradável. Com efeito a janela do banheiro possui uma basculante rústica de madeira e a fechadura não funciona direito. A ninja invasora, como ela mesmo se intitula, capaz de escalar paredes e de outras façanhas capazes de me fazer duvidar de que uma mulher seja capaz. Ali estava e eu sabia que viria a tona a razão real da visita. Eu já a conhecia há algum tempo, jovem, 19 anos, bonita, dona de um belo corpo, mas, como tantas outras, envolvida pelo flagelo das drogas. Capazes de qualquer coisa por uma pedra de Crack. Tentei fazer com que tentasse deixar o vício, mas, inutilmente. Já fugiu 2 vezes de internatos para tratamento de dependentes. O apelo da droga é mais forte e sempre volta. Ela ainda se mantém razoavelmente inteira, mas com certeza não será por muito tempo. Sua mão deslizou suavemente por baixo das cobertas e eu sabia que não ficaria por aí. Restou satisfazer o apelo natural da carne. Depois adormeci novamente.

Acordei quase uma da tarde, com fome e então lentamente voltou-me a consciência. O que eu fizera? Que diabo de instinto sexual nos leva a atitudes semelhantes, sem pensar, sem reagir. Levantei e fui conferir, minha carteira sobre o criado mudo estava intacta, não faltava nada. Meu celular igualmente, no lugar. Ela havia sumido. Ao chegar na cozinha, estava tudo arrumando, o chão varrido. Mas, como? Sem pedir nada?

Então senti seus braços me envolvendo pela cintura.

- Fica frio, não peguei nada, de você eu não roubo.Você é um amigo legal...

Dei-lhe então algum dinheiro e a levei até o portão. Me beijou e foi embora. Claro que dei um jeito de trocar a fechadura da janela. Ela voltará quando menos eu esperar, talvez descendo pelo telhado ou surgindo como uma sombra furtiva atravessando paredes. Não sei se haverá algo capaz de detê-la. Fica uma sensação de impotência diante do poder destruidor da maldita droga, capaz de transformar seres humanos em escravos e destruí-los impiedosamente.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 03/06/2013
Código do texto: T4322900
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