Sobre os shoppings

Ainda me lembro da excitação que tomou conta de todos nós no final daquele ano de 1998, quando subitamente recebemos a notícia de que o primeiro shopping de São Bento do Sul havia sido enfim inaugurado. Um shopping! Era uma dádiva dos céus, um passaporte para que ingressássemos enfim na modernidade. Eu ainda estudava no CESB e vivíamos lá os últimos dias do ano letivo, o que deve ter favorecido a decisão que muitos tiveram naquela tarde em cabular as aulas e ir conferir o shopping de perto, desfrutando assim da bênção que a partir daquele dia foi derramada sob a população são-bentense.

E, realmente, nos sentíamos participantes de uma experiência extraordinária, certos de que a nossa vida jamais seria a mesma, e mal podíamos nos conter de ansiedade por tudo aquilo que o futuro nos reservaria. Falavam em três, quatro cinemas! Com esse sentimento percorríamos os três andares do shopping, sem destino certo, e subíamos e descíamos o elevador várias vezes, porque, afinal de contas, era o elevador de um shopping, um shopping que ficava na nossa cidade e, como se não bastasse, ainda tinha visão panorâmica. Era como se Joinville e Curitiba tivessem subitamente aterrissado em São Bento. Não exagero: naqueles primeiros dias nós realmente nos sentíamos numa cidade grande.

Naturalmente, com o tempo nosso ânimo esfriou, e nossas idas até lá começaram a diminuir, e chegamos até mesmo a achar preciosismo usar o elevador em vez da escada. Só não diminuiu o nosso entusiasmo pelos shoppings centers em geral, que continuamos cultuando com notável devoção, sempre recorrendo a eles quando tínhamos a oportunidade de sair de São Bento e ir para centros maiores. Não tínhamos maiores ideias de diversão, e achávamos que nenhum lugar poderia concentrar tantas opções de entretenimento como um shopping center, de modo que aderíamos a eles sem hesitação, e chegávamos a achar que conhecíamos uma cidade pela simples experiência que tivemos em um deles.

Mais tarde mudei-me para Curitiba e tive os shoppings sempre à minha disposição. Mas nunca aproveitei muito. Apenas disfarçava o tédio, pois raramente comprava alguma coisa. Ficava zanzando, e só parava para entrar na livraria do shopping – e mesmo assim só para olhar livros que não compraria. É basicamente o mesmo que eu faço aqui em Brasília, com três shoppings bem próximos ao meu trabalho.

Devo dizer que sou muito incomodado pelo clima dos shoppings. Toda aquela gente consumindo, oferecendo tão facilmente o seu dinheiro em troca de um produto qualquer, quase sempre mais caro que a média, ou a um momento de diversão passageira em frente a uma tela grande, comendo pipoca e refrigerante também caríssimos, sem questionar nada, sem esperar extrair disso alguma reflexão, ou ainda comendo coisas muito gostosas e terríveis para a saúde, sem a menor preocupação além do seu prazer mais imediato.

São pessoas bem afortunadas, capazes de deixar no cinema e na praça de alimentação mais do que 10% do seu salário. E, como a nossa economia cresce, há cada vez mais gente pagando esse dízimo. As pessoas estão consumindo mais, mas continuam incapazes de um pensamento original.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 03/06/2013
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