Um Dia Num Pronto Socorro

Numa manhã de verão, um homem observa um sol jovem e atrevido , invadir sorrateiramente sua janela e chamá-lo para a vida. Levanta, toma seu café com pão apressadamente e antes de sair vai ao quarto de sua filha. Ela está dormindo e tem nos lábios o sorriso suave da Mona Lisa. O homem Imagina então, o seu olhar de decepção ao acordar e procurá-lo para ir à praia.

Hoje é seu dia de plantão. Deixa para trás o seu gostoso papel de pai e companheiro e incorpora o fascinante e difícil ofício de médico.

No hospital uma fila imensa vai se formando. Nos corredores, crianças “internadas” por falta de vagas.

No seu consultório, após pegar receituário, papel carbono e arrumar sua mesa, ainda não pode iniciar o atendimento. Como o Pronto Socorro fica localizado num porão sem iluminação e ventilação adequada, necessita de luz acesa mesmo numa manhã incandescente de verão.

Decide então, como eletricista amador, subir na mesa do consultório para apertar uma das lâmpadas fluorescentes que insiste em piscar, ofuscando ainda mais, sua míope visão. Uma paciente vendo tal cena, entra em pânico e procura a portaria. Moça, quero falar com a direção do hospital! Tem um médico em cima da mesa. Acho que ele está drogado!

Alheio aos acontecimentos, ele inicia o seu verdadeiro papel no teatro da vida : a de médico drogado, intoxicado sim, mas pelo descaso dos órgãos público com a saúde e o povo em geral.

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 31/03/2007
Reeditado em 31/03/2007
Código do texto: T432266