DE MÁRIO A BANDEIRA
Impossível reunir num só texto, e com precisão, todos os aspectos observados na longa e ininterrupta correspondência epistolar mantida entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira durante os 14 anos que vão de 1922 a 1935. Tal abrangência exigiria um desdobramento alcançável à íntegra dessas cartas compiladas num volume de mais de duzentas páginas. Então, entre um possível tratado e a minuciosa leitura, esta detalha nas cartas de Mário o que Bandeira em publicação prefaciou.
Constitui essa correspondência um acervo acessível ao que há de pessoal sobre Mário de Andrade, mas, sobretudo, o que o caracterizou e o distinguiu como homem de letras e ao mesmo tempo delas tornando-se um combatente combatível ao que propôs modificar com rebeldia desafiadora, subvertendo normas e estilos nos aspetos gramaticais e literários. Em prefácio, Manuel Bandeira assim se refere às cartas do amigo: “Nelas está todo o Mário, com suas qualidades, que eram muitas e algumas de natureza excepcional, e os seus defeitos jamais de origem mesquinha”. O mais interessante, porém, é que essas cartas além de retratarem com tanta verdade o seu autor, são do maior interesse para compreensão da obra de Mário, sobretudo de sua poesia. O índice se dispõe como “guias de assuntos das cartas”, sequenciadas por datas, do que se pode destacar: Apreciando “Carnaval” e “Cinzas das Horas”, de Bandeira; enviando seu poema “Maturidade”; sobre a simplificação da pontuação, com o mínimo de vírgula possível; Apreciando o livro “Libertinagem”, de Manuel Bandeira; explicando sua técnica poética em um poema; sobre o emprego de brasileirismos e efeitos sonoros em seus versos; criticando o livro “Estudos Brasileiros” de Ronald de Carvalho; sobre Graça Aranha em face do movimento modernista; fazendo sua primeira elogiosa referência a Carlos Drummond de Andrade; sobre seu ideal de criação da língua brasileira; a propósito do italiano futurista Marinetti; em torno do seu livro “Há uma gota de sangue em cada poema”; sobre sua “Carta aberta” a Alberto de Oliveira; sobre brasileirismos e língua brasileira; e muitos mais outros temas.
Impossível reunir num só texto, e com precisão, todos os aspectos observados na longa e ininterrupta correspondência epistolar mantida entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira durante os 14 anos que vão de 1922 a 1935. Tal abrangência exigiria um desdobramento alcançável à íntegra dessas cartas compiladas num volume de mais de duzentas páginas. Então, entre um possível tratado e a minuciosa leitura, esta detalha nas cartas de Mário o que Bandeira em publicação prefaciou.
Constitui essa correspondência um acervo acessível ao que há de pessoal sobre Mário de Andrade, mas, sobretudo, o que o caracterizou e o distinguiu como homem de letras e ao mesmo tempo delas tornando-se um combatente combatível ao que propôs modificar com rebeldia desafiadora, subvertendo normas e estilos nos aspetos gramaticais e literários. Em prefácio, Manuel Bandeira assim se refere às cartas do amigo: “Nelas está todo o Mário, com suas qualidades, que eram muitas e algumas de natureza excepcional, e os seus defeitos jamais de origem mesquinha”. O mais interessante, porém, é que essas cartas além de retratarem com tanta verdade o seu autor, são do maior interesse para compreensão da obra de Mário, sobretudo de sua poesia. O índice se dispõe como “guias de assuntos das cartas”, sequenciadas por datas, do que se pode destacar: Apreciando “Carnaval” e “Cinzas das Horas”, de Bandeira; enviando seu poema “Maturidade”; sobre a simplificação da pontuação, com o mínimo de vírgula possível; Apreciando o livro “Libertinagem”, de Manuel Bandeira; explicando sua técnica poética em um poema; sobre o emprego de brasileirismos e efeitos sonoros em seus versos; criticando o livro “Estudos Brasileiros” de Ronald de Carvalho; sobre Graça Aranha em face do movimento modernista; fazendo sua primeira elogiosa referência a Carlos Drummond de Andrade; sobre seu ideal de criação da língua brasileira; a propósito do italiano futurista Marinetti; em torno do seu livro “Há uma gota de sangue em cada poema”; sobre sua “Carta aberta” a Alberto de Oliveira; sobre brasileirismos e língua brasileira; e muitos mais outros temas.
No aspecto pessoal chamou-me atenção as diferentes formas de tratamento, iniciadas por um quase cerimonioso "Manuel Bandeira". Depois, seguem-se as demais com "Meu querido Manuel", "Manuel", "Manuel querido", "Meu caro poeta","Manuel do coração", "Manuelucho", "Manuel dear" e, por fim," Manú".
Outro aspecto “anárquico” de sua escrita foi o ortográfico. Mário grafava quase sempre porêm, mas não acentuava ninguém, também, Belém. Usava sistematicamente o pronome “si” no lugar de “se”. > ”Si a ferida fosse legítima...; “Si te não disse ainda...” Grafava “milhor” em vez de melhor. Sobre vírgula escreveu para Manuel: “Escrevi Clam com ême. Quero nacionalizar a palavra. Que achas? Tomar-me-ão por besta, naturalmente. Isto não tem importância, aliás. Examina a pontuação que adotei atualmente. O mínimo de vírgulas possível. A vírgula a maior parte das vezes, sabes, é preconceito de gramático. Uso dela só quando sua ausência prejudica a clareza do discurso, ou com o descanso rítmico expresso.”
Propositadamente iniciava a frase com pronome obliquo: “Me lembrei muito bem da cantiga que citaste”. E a história do famoso “si”: “Si por acaso no verso livre cada verso correspondesse a um juízo inteiro, então terias razão, mas o verso livre não é só isso, embora seja também isso. Há muitas vezes, que obedecer a ritmos interiores e pessoais”.
Mário não tentou influenciar. Quis abrasileirar, mas ficou ao seu modo o que subverteu. Feliz ou infelizmente, não pegou. Mas ele foi independente na sua morfossintaxe. “A minha máquina de escrever me domina, é mais grande, é mais forte do que eu”. “Fica a idéa do Romantismo de pé”. “Si não encontrar, aviso pra você.
Eu gostaria muito de explorar expondo tudo que li nessas cartas em todos os aspectos: histórico, literário linguístico e até musical. (Mário criticou Villa Lobos). Mas o que escrevo agora tinha pretensão de crônica. Já não é. Assim, usando a linguagem de Mário: isto si não exprime. Mesmo? Sei não!... A poesia de Mário de Andrade é admirável, mas a escrita dele só Manuel Bandeira aceitou, nem sempre com ele concordando.
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Luzia Avellar, se não saiu a contento, perdoe-me. É o que tenho pra hoje.
Mas recomende aos seus alunos lerem os poemas de Mário de Andrade e de Manuel Bandeira. Depois, se possível, as cartas.