AS CONVERSAS QUE TIVEMOS ONTEM
Algumas crônicas nos dão a sensação de que já conversamos sobre o que estamos lendo, temos a impressão de que é a sequencia da conversa de ontem, uma resenha do que foi discutido. Entenda-se por conversa não necessariamente a participação direta, porque podemos estar assistindo a um debate pela televisão e formular conceitos sobre o que se discute.
Em uma conversa entre Ron Wood e Alice Cooper imagino que eles vão falar sobre rock e drogas; quando Tom Jobim e Vinicius de Moraes conversavam deviam falar de música e mulheres; um papo entre Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer o assunto devia ser educação e política. Dá para imaginar Fidel e Guevara falando sobre outra coisa que não fosse a revolução cubana?
As conversas que tivemos ontem estão por aqui e por ali no dia de hoje. Elas nunca esgotam e os assuntos nos perseguem. Um amigo tinha por hábito conversar comigo quando eu não estava presente, ele imaginava o que eu falaria, acho que era uma forma de terapia, sei lá. Esquisitice era quando ele falava para mim depois: “Cara, tu tava com a razão”.
Muitas vezes ao ler um texto descobrimos o que queríamos, algo que não sistematizava, não acendia a luz que tornaria claro o que estava rondando o pensamento. A leitura, a escrita e a conversa são as luzes da informação. Quando escrevo e leio estou conversando sozinho.
Às vezes acontece de termos que interromper uma conversa por algum motivo tipo: o telefone toca, alguém senta do lado, o trem para na estação. A pior interrupção é quando não temos mais o que conversar e ficamos concentrados olhando o que acontece ao redor como: o sapato desamarrado da criança, o desânimo nos olhos de um botafoguense, ou ficamos lendo tudo o que está em volta.
As conversas que tivemos ontem servem para nos mostrar e apontar as coisas que temos feito, um mergulho no cotidiano. Reiniciar uma conversa enriquece o nosso conteúdo e nos aproxima de algumas saídas que ainda não enxergamos, mas que estão presentes o tempo todo quando lemos, escrevemos ou falamos.