SÃO JOÃO EM SANTA MARIA - LEMBRANÇAS INESQUECÍVEIS!!!

Lembro - me muito bem das inúmeras festas de São João em Santa Maria da Vitória principalmente da época em que eu era apenas uma criança no Colégio interno de Dona Rosa. As peças teatrais que eram apresentadas, as quermesses, as quadrilhas gritadas pelo Netinho Bodeiro no auditório Henrique M'call e ou às vezes no Clube Recreativo Dois de Julho.

Nestas épocas de São João, o serviço de auto-falante mesclava músicas de Luiz Gonzaga, Mário Zan com os sucessos da turma da Jovem Guarda. Coisas da nossa terra. Nesta época quase não havia ruas calçadas e em razão disto as ruas ficavam enfeitadas de fogueiras à espera de serem acesas. Na verdade as fogueiras eram árvores cortadas dos gerais com caules longos em cujas copas amarravam-se algumas prendas e eram fincadas ao chão, com uma armação de lenhas no pé delas e quando a fogueira era acesa, ficávamos na expectativa da queda da árvore para avançarmos nas prendas. Era um situação de risco pois, enquanto a gente tentava pegar alguma coisa, outras pessoas se preocupavam em soltar bombas na confusão. Felizmente ninguém saia ferido.

Dona Milu, mãe de João Batista, tinha por tradição festejar o aniversário do seu filho mais velho, João Batista, na data de São João que era coincidentemente data de nascimento dele, e lá na casa da Rua da Lagoa, na esquina, que ficava de frente à casa do Mestre Guarany, a festa para os colegas de escola, amigos e parentes era uma coisa de louco: Muito forró, muita comida e bebida, era uma maravilhosa festa!

Certa vez dona Nenzinha resolveu comemorar o São João na Fazenda do Colégio, na Barra de Dona Rosa. Olha , foi algo infinitamente sensacional vendo os alunos chegando de madrugada para a festança na fazenda. Tivemos quadrilha, pequenas peças de teatro, banhos no rio e muita curtição.

Certa vez Dona Ruth ensaiou uma peça para o São João que foi apresentada no auditório. Não me recordo do título mas trago na lembrança as alunas Oswaldina,Germina e Joana e o aluno Otaviano estrelando esta peça, que teve que ser reprisada porque Vaninha, Dozinho e Tutes só chegaram de Salvador no dia seguinte e também os demais estudantes. Adorei porque pude ver a peça pela segunda vez.

Uma vez dona Elza de Pedro Almeida resolveu comemorar o aniversário de Jorge, seu filho, que acontecia em vinte e um de junho no Clube Dois de Julho, com uma quadrilha de São João. Eu fui um dos convidados. O pessoal do internato teve tratamento Vip porque as meninas ajudaram com a decoração da festa. Eu, por um destes golpes do destino tive problemas com o meu par. O meu par, além de ser amiga e colega de sala, era também uma das filhas do moço que havia assassinado o cunhado do Prefeito Péricles Laranjeira e, em razão deste fato lamentável, ela não compareceu no dia da apresentação e eu acabei participando sem a sua presença. Na época a vontade de participar era muito grande que eu me sujeitei a dançar a quadrilha sem o meu par só para não ficar de fora.

Uma outra festa marcante de São João foi na Sambaíba na casa de uma tia do Bochecha. Comemos do bom e do melhor e dançamos à vontade. Bochecha tinha umas primas, Jesus, que meninas lindas!!!!!Até Tonho Rosinha, Novais e Domingas, irmã mais velha de Bochecha caíram no nosso forrozinho ali naquela casa aconchegante e hospitaleira. Tem mais um detalhe: antes passamos na casa do Bochecha e comemos umas guloseimas feita por mãe Judite. Aliás, festa de São João em Santa Maria, era assim. À medida em que passávamos à frente de uma casa de um conhecido, a gente ia entrando e tirando a barriga da miséria.

Deixando de lado algumas recordações, um outro São João marcante na minha vida, foi na Barra de São José, na fazenda do casal Reynaldo e Nana Athayde. Marcante porque eu achava que teria uma noite de almirante, ou melhor, de apaixonado caipira no São João. Eu estava parado no janelão da casa onde morava à Rua Rui Barbosa, Kadinha, Carlos Raimundo, passou em casa me chamou patra ir para a Barra do São José, e com Tião de Zé de Tião e outros amigos rumamos para lá.

Festa de São João na fazenda do casal Athayde era uma coisa de primeiro mundo. Como anfitriões eram incomparáveis. Além dos amigos e parentes, os bancários do Baneb e do BB tinha cancela cativa na festa. Tutes e Arturzita também foram com as crianças. Tomamos banho no braço do Corrente para nos prepararmos para o forró da noite. Sanfoneiro e acompanhantes ao vivo e até tinha um singer caipira. Tem luxo maior que este?

A minha intenção nesta festa era outra. Eu tinha um alvo em mente: Nivalda, uma baixinha troncudinha, de pele rosada, perninhas torneadas, boca de seda e maçãs do rosto macias. Nunca namoramos firmes mais de vez em quando a gente dava umas pegadinhas raras no Santa Clara e na Praça da Bandeira. Para mim aquela seria uma verdadeira noite de São João nos braços da Nivalda, mas não rolou. Aninha, filha do casal Athayde e minha amiga de infância, virou para Nivalda e disse: Você é da casa e tem que dar exemplo. Uma ducha de água fria naquele momento foi jogada sobre as nossas cabeças.(naquela época se dizia: (Uma cumbuca de água fria) Perdi o ritmo do forró. Aliás eu nunca tive este ritmo. Imagine perdendo o rebolado.

Sobraram as brejeiras( caipiras) da Barra que dançavam de mais e bebiam cachaça como se bebessem água, e mais, enquanto os cheiros do suor, do príncipe negro e da bebida exalavam as pessoas dançavam e eu pisava mais nos calos delas que do que dançava. Ensinaram – me que forró se dança arrastando o pé. Coitado dos dedões delas.

Tião de Zé de Tião se agarrou com a cunhada de Thenilson Chrisóstomo que havia prometido leva-lo para dormir na casa dela, ou melhor, da irmã dela, fato que não ocorreu. Lá pelas altas horas da madrugada, as pessoas começaram a procurar lugar para dormir. Nos carros, nas carrocerias das picapes, no chão ao redor das fogueiras, no chão da casa etc...Era muita gente para ser acomodada e ninguém quria arredar pé.

Eu me aboletei no curral em uma carroceria de carro de boi junto com Tião de Zé de Tião. Outros amigos se aboletaram nos cochos dos animais, que eram de cimento; outros encostados nas porteiras.

Ao deitar nas tábuas duras do carro de boi, olhando infinitamente para o céu, consegui divisar um véu estrelado, com uma lua cheia cruzando o seu caminho curvilíneo. A estrela Dalva naquela noite parecia brilhar mais do que nas outras noites. Bem que poderia ser a Nivalda brilhando no céu. Acabei tendo uma noite de Almirante a ver navios naquele São João.

Namorando com as estrelas do céu sobre as madeiras duras do carro de boi acabei sonhando com Nivalda naquela madrugada e o sonho só foi interrompido com o cantar dos galos, dos perus e das galinhas de Angola ali na fazenda e com a cabeça meio pesada por causa das cervejas e caipirinhas feitas com cachaça fabricadas ali mesmo na fazenda.

Mas o dia começou muito bom. Seu Reynaldo lá pelas quatro horas da madrugada, com um friozinho de lascar, foi ligar a bomba para encher a caixa de água e tomou um banho gelado. Alguém tinha desconectado a mangueira e quando ele ligou a bomba... Banho!!!"- Não sei quem foi o infeliz que fez isto" disse. O dia foi todo ele divertido. Com a turma do BB e do Baneb, fomos à sede do São José tomar cerveja e tomar banho no rio.

No último São João que passei em Santa Maria, ainda nos anos oitenta, tive privilégio de sentar à mesa com Dr. Zequinha Lisboa, um advogado amigo e ex professor, Tonho de Palú, Raquel Nogueira e o grande Waldik Soriano.

Na noite anterior eu tinha ido a um forró na Fazenda de Arnóbio, irmão de Dr. Zequinha, onde por tradição ele fazia um bingo, com cartelas distribuídas gratuitamente entre os convidados, cujo prêmio era um garrote.

Nesta noite o felizardo tinha sido o Dozinho que queria carregar o garrote naquela mesma hora com medo do Arnóbio mudar de ideia. Ele até queria colocar o garrote(bezerro) no porta malas do carro. Coisa feia em Dozinho! Tamirinho até comentou: Torci tanto para os empregados ganharem, coitadinhos, todos com um monte de cartelas mas Deus não quis.

Ao longe sei que o São João em Samavi continua pra lá de bão. Pena que dificilmente pegarei esta festa de novo. Enquanto isto, vou ouvindo os forrós de Dominguinhos e Gonzagão para matar a saudade que é muita.

E lembrar das inúmeras barracas com suas guloseimas e a imagem do Prefeito, grande torcedor do Santos, amigo e professor nosso, o saudoso Chiquinho da Almasa descendo do palanque para cumprimentar a gente ou varando a madrugada em uma barraca à frente do Dois de Julho, batendo papo com Flavio Bonfim e Rui de Mariinha, tomando cerveja e comendo churrasco servido por Duy, momentos que nunca me saíram da memória inclusive a visita do Waldik Soriano, com Raquel pedindo para ele autografar uma foto.

Estas lembranças da minha última festa de São João em Santa Maria da Vitória são inesquecíveis.