POSSUÍDO PELO CAPETA, O MEU TIO ROSEMIRO

Era uma manhã destas inúmeras que eu vivi em Santa Maria da Vitória. Acordamos cedinho para rumarmos para a Barra de Dona Rosa. A barra do dia já dava a sua cara preparando a chegada do astro rei. Ao sairmos da cidade, adentrando a rodagem e depois o caminho de areia que nos conduziria para a fazenda, era o chão umedecido do orvalho da manhã enquanto os grilos, os calangos, os besouros verde e amarelo faziam as suas incursões matinais.

O cheiro da manhã era algo Incontrolável. Dava até vontade de comer a terra molhada com cheirinho de mato fresco temperado com o cheiro das folhas silvestre. Tudo transcorria normalmente naquela manhã. Passamos pelo cajueiro que marcava a metade do caminho, pela baixa do burro, mas antes de chegarmos no local onde o caminho faz uma curva com declive, já na entrada da fazenda de Maria de Civil, uma cena dantesca à beira da estrada chamou –nos a atenção.

O cadáver estava praticamente estripado! A violência tinha sido medonha! Dava para se notar uma quantidade enorme de golpes de facão! Eram tripas para todos os lados! pareciam que se multiplicavam! Ele parecia muito jovem! A barriga dele parecia uma peneira de tão varada que tava. Recordo - me de alguém dizer: Que tamanha maldade! Quem será que fez isso?

A resposta estaria a poucos metros dali. Antes de chegarmos à porteira da fazenda, do lado de fora havia uma casinha de tijolos de barro e telhas de olarias. Nesta casa morava a minha tia Maria, irmã de meu pai, com o seu marido Rosemiro e meus primos e primas. Rosemiro era um cara de estatura baixa, troncudo e tosco. Gostava de tomar pingas quando ia para a cidade e,, bêbado era o terror de todos. E foi justamente numa destas bebedeiras e, de volta à fazenda à noite, o jegue que ele montava deu uma empacada e jegue quando empaca, não há Cristo que dê jeito.

Bêbado, tomado de fúria tirou o facão da bainha e começou a golpear o jegue até transformá-lo num monte de tripas e sangue. Lembro –me bem de que Dona Rosa deu uma lavada de sabão nele e falou para que tal fato não mais ocorresse senão ele seria mandado embora da casa e da fazenda. Dona Rosa disse que brutalidades como aquela era inadmissível. Poderia ter ocorrido contra uma pessoa. Só sei que, pela cena dantesca, o meu tio emprestado parecia estar possuído pelo capeta, pelo satanás; e que a cachaça dele estava batizada com o xixi do capeta isto lá tava!!!! A verdade é que este tio emprestado nunca entrou nas minhas graças e acho eu é que, no meu subconsciente sempre trago o ato insano cometido por ele.