Mais uma vez, humano.
Ai, pro incrível que possa parecer, o tal humano passa a vida toda, que num momento de loucura inventaram dá-lo, correndo e correndo, lutando a cada dia, um após o outro. Trabalhando, estudando. Passando a maior parte de seu tempo preso numa cadeira em que mal pode fazer pela terra aquilo pelo qual veio para fazer. Crescer, reproduzir. Só dá pra nascer, sentar, digitar, trabalhar e morrer. Não necessariamente nessa ordem. Seus discursos sempre são parecidos com: “Estou lutando agora ppelo poder de descansar depois”. Esse depois provavelmente só chegará quando for sua hora de morrer, ou quando nada de viver possa ser vivido novamente.
Vivem mais tempo de suas vidas em trens, ônibus, carros, aviões, navios ou qualquer que seja seus meus de transportes do que praticando aquele hobbie que tanto lhes dá prazer. E ainda desprezam quando um velho de algum outro país que resolveu viver a viajando e conhecendo cada coisa de cada canto, novas pessoas, fazendo coisas incríveis ou não, fodendo-se ou não, morrendo de fome ou não. Vivendo. Tudo que querem é ser felizes, e plenamente felizes. Procurando deuses para isso. Dinheiro, trabalho, religião. Todos motivos falsos para ter a felicidade, para ser vivo. O que eles acreditam que seria só motivo para uma diversão momentânea, talvez devesse ser prolongado por mais tempo. Como se cada homem de meia idade com filhos e obrigações devesse entrar dentro de uma sacola e ser sacudido por um robô gigante. E depois repetir.
Falo diretamente pra você. Eu parei de ligar pro que estou escrevendo. Costumo gostar de escrever contos. Não quero mais nem saber. Tô nem ai. Vou escrever o que cair na telha. O que to sentido. Espero que no futuro eu possa olhar pra esse texto e dizer uma dessas coisas: “Aaah! Os jovens. Como é bom sonhar!”. “Quanta ladainha eu falava quando eu era jovem. Não conhecia nada do mundo.” "Imagina se eu não tivesse seguido o que eu pensava quando eu escrevi esse texto. Onde estaria?”. “E como eu estaria de eu tivesse seguido esse pensamento. O que eu estaria fazendo agora?”. Mas acima de tudo, espero que no futuro eu veja crianças e jovens tão sonhadores quanto eu sou. É saudável. De verdade. Se pegar falando sozinho, dançando nu no meio da casa quando estou só, pensar que é um agente secreto com a missão de se aproximar de uma garota extremamente linda que se viu no metrô. Coisas de jovens. Coisas que nunca devem acabar, sabe?
Esse negócio de envelhecer é um negócio complicado. Eu nunca sei quando é a hora certa para parar de fazer o que fazia a algum tempo atrás. Ora. Deixe-me em paz. Fazendo o que eu quiser, ué. Tendo meu próprio ciclo de pensameto. Produzindo meu próprio “eu”. Criando um novo. Um dia a gente se encontra. Outra a gente se perde. E se acha novamente. Esse é o caminho irremediável da vida, feliz/triste. Um pouquinho de um, um bocadinho de outro. Viver buscando uma razão pro universo nunca foi tão legal. Tão “nós”. Tão “eu”. E ele vai. Vai achar o mundo. O mundo escondido em seus bolsos.
Nada mais é como antigamente. As coisas não querem mais ser parecido com o que já foi. Não é da moda. É Antigo. Mas o antigo é bom. É mais calmo. É mais vivo. O novo também. Pode ser calmo. Pode ser vivo. Mas depende da alma calma e viva que o toca. Pode ter toda dor que já não tem mais. E pode ter toda ela. Não quero mais. E ai só continua sendo. Nem mais nem menos. Ele. O sem senso. Mas não se dá a mínima para o caráter tão veloz que ele tem do tempo. Essencialmente. Pode-se usá-lo com calma, mas sua essência é rápida. É Pressa. Vive por viver.
Viver. Quando ele vier
Deixa de viver quando ele deixa de vir.
E vem, não tem problema com isso
Mas vem rápido.
Deixa o gostinho de quero mais.
Deixa aquela sensação de que
não terminou de fazer tudo o que queria fazer
mas ai. Nem quer saber.
Quer terminar. Finalizar.
Não tem nem Dó. Nem da Ré.
Não chegamos a ver o Sol
Basta só pensar sobre Si.
E somos enterrados Lá.