Pensando um pouco mais no ofício de ser escritor!
Estou pensando um pouco mais no ofício de ser escritor. Quando deparei com minha vocação de versejar, ainda jovem, percebi que as palavras brotavam de imediato na minha imaginação fértil e criativa. Lembro que nas brincadeiras de adolescente sempre me vinha uma boa rima, com facilidade. Sem notar que era a chama da poesia, internalizada em meu ser: por Obra de Deus, eu conseguia pronunciar aquelas rimas fáceis em ado, ão, ar, er, eu, ir, or etc. Foi o princípio de tudo o que mais tarde transformou-se numa rotina em minha Vida: Poetizar!
Eu comecei, sem querer, a esboçar meu primeiro poema, no já distante ano de 1989 quando na aula de Redação do Cursinho Objetivo vieram com a proposta de tema: -- Paráfrase de um brilhante poema de Luis Fernando Veríssimo: “E escreveu o poeta para o seu amor inconfessado!” -- Peguei então a caneta e no espaço da folha impressa para colocar o poema escrevi minha primeira estrofe, exatamente assim:
Queria ser a lâmpada que brilha em seus olhos
Para iluminar o seu coração
Reluzente como um colorido passarinho
Que brilha na escuridão
Traçada em nossos caminhos.
E continuei mais algumas estrofes falando de temas associados à LUZ. Como seria possível, alguém que nunca lera nenhum livro de poesias, que não tinha namorado ainda, que jamais houvera feito um poema, sair escrevendo, numa folha de papel pautada, uma estrofe assim? Associando Luz à Bem-Amada?! Passada uma semana recebi a redação de volta e a corretora da mesma deu-me a nota ótimo tecendo este comentário: - Seu poema trabalha com um elemento mágico: a luz. Através da trama de seus elementos componentes e do próprio vocabulário, ele adquire brilho e resplandecência. Sob as mais variadas formas, a luminosidade desperta a atenção do leitor e apela para sua sensibilidade. Interessante notar que escrevi o texto e não coloquei sequer um título, não me passara pela cabeça a idéia de um título para o texto que escrevi.
Com o passar dos dias fui reeditando esta mesma idéia de começar estrofes com a palavra: Queria e outros “poemas” escrevi; até não mais parar de escrever, diversificando então, os conteúdos e formas, nas horas livres do meu dia, principalmente nas noites e madrugadas, ao som de uma boa música, quase sempre MPB. Escrever para mim tornou-se um hábito que posteriormente foi sendo transformado em uma conversa íntima comigo mesmo, uma abertura (desnudamento) do meu interior (alma), muito pouco convidativo à comunicação, à abertura de meus sentimentos, por uma média timidez, e pela inexperiência com a vida: amorosa e do trabalho. Fui até então um jovem de classe média que só estudava e tinha nas horas livres a oportunidade da diversão com os amigos.
Escrevi muito nos anos iniciais em que descobri minha vocação de transformar sentimentos em versos. Escrevi sem ler poemas. Era apenas um exercício resultante da minha profusa criatividade, porém, limitado, por ser, naquele tempo, um pouco inábil para o uso correto da Língua Portuguesa. No ido ano de 1995, já formado em Geografia, resolvi prestar novamente vestibular, agora para Letras, para aprender, com mais rigor e aprofundamento, este ofício que se colocou a mim como primordial em minha Vida: “escrever poemas”. (Mesmo que simplórios e feitos de maneira amadora).
Foi então que tomei gosto pela leitura dos grandes poetas brasileiros e a conhecer com mais apuro a Língua Portuguesa e as técnicas inerentes ao labor poético. Aprendi também que era necessário escrever menos e ter mais cuidados na elaboração dos meus escritos. Comecei então a escrever no espaçamento de 5, 10, 15, 30, 40, 60 dias. E assim até hoje permaneço; consciente da existência do momento certo da escrita: o instante de latência da inspiração: momento em que todas as forças existentes internas e externas convergem para a folha de papel e Deus soletra-me uma verdade concernente ao meu existir.
Escrever é uma atitude que requer sempre, na minha opinião, um sentido maior, uma necessidade verdadeira, um precisar d´alma. Por isto, talvez, eu não tenha em meus escritos a invenção de um momento, mote para escrever. Escrevo sempre por inspiração Divina, por necessidade humana, por estar amando fortemente num determinado momento, por estar indignado com determinada situação da realidade cotidiana. É em situações de extrema emoção e transe (ausência de controle sobre meus sentidos) que desabrocha meu versejar na tela ou no papel. Eu não sei falar, amigos, confesso para vocês, de sentimentos que não estou sentindo ou vivendo.
Amigos, eu não escrevo para ter todos os dias textos, os quais, possam ser divididos com leitores/as, amigas/os. Tudo em mim tem a hora exata de existir e somente Deus sabe qual é esta hora exata. Creio eu, divagando um pouco no ofício da escrita, que o escritor não é medido pela quantidade de textos, e sim, por ser verdadeiro, por ser emocional e por conseguir tocar a alma das pessoas. Escrever é um Ato Íntimo com Deus. É uma conversa particular com Deus. Escrever é uma grande responsabilidade que assumimos com cada leitor que nos acompanha. Escrever é transformação. Escrever é perdoar. Escrever é libertação. Escrever é descoberta. Escrever é transpirar em cada palavra que nasça no poema. Escrever é um ato de renúncia dos nossos egoísmos interiores. Escrever é a revolução sem armas. Escrever é principalmente: humildade, sensibilidade e humanismo.
E a nossa Ética, como escritores, acredito nisto, precisa ser vista como a busca pela “palavra-verdade”, aquela que realmente quer nascer, brotar de dentro de nós. Escrever não é ter respostas para tudo, para qualquer situação que alguém viva. Escrever é ter algumas respostas apenas, porém, respostas que nos tornem mais belos, mais amorosos, mais pacientes, mais humanos, mais sensíveis, mais poéticos, menos egoístas, menos individualistas, menos frios diante das realidades que surgirem no cotidiano de nossas Vidas, sejam estas, realidades ligadas ao amor, ao trabalho, à pobreza, à família, à violência, à alma, à Fé, ao coração, etc.
Enfim amigos, precisamos batalhar para fazer da palavra um instrumento capaz de tocar profundamente os corações leitores, de convergir para as almas um pouco mais de poesia, sonhos, utopias, fantasias: elementos transformadores do homem. A paz esperada no mundo de hoje é também, uma busca de inovação do nosso modo de escrever, da nossa conduta diária como escritor, porque toda palavra provinda do coração com bondade, bem-querer e amor é palavra transformadora!