A Vantagem do Tombo
Li, dias atrás, que o nosso cronista mor, Gonzaga Rodrigues, levou um tombo; dizem que, pela zoada, foi um estouro. Baque, queda ou estouro, não foi um tombão, confidenciou-me Gonzaga na APL, ressaltando os que lhe acorreram para prestar apoio: - Foi apenas um escorrego, coisa de quem, distraído, pisa no lodo ou espia os imóveis em ruína; desfazendo insinuações de que teria perdido o equilíbrio por causa da sua decrescida jovialidade, labirintite ou o dever de não andar sozinho pelas ruas que ele tanto ama. Alguns dos amigos, como Jackson e Evaldo Gonçalves, culparam a calçada que, coitada, sem receber devidos cuidados, perdeu seu nivelamento deformada por matos e capim, criando batentes a qualquer pé que ali deslize. Semanas atrás, um desses abriu uma boca enorme no solado do meu sapato.
Na verdade, Gonzaga, que o diga Martinho Moreira Franco, começamos a nos aproximar da idade das três pernas... Lembremo-nos do enigma da Esfinge de Tebas que, no vestíbulo da cidade, sentenciou para Édipo, sob a ameaça do “decifra-me ou devoro-te”, a adivinhação sobre nossas fases etárias: - Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite? A que Édipo respondeu: - O homem. Os álbuns retratam a criança que éramos, engatinhando de quatro patas; o idoso que seremos, andando de bengala. Doutro modo, como me explicou Humberto Mello, em qualquer hora do dia, com duas ou três pernas, quem se apressa, ao caminhar sem os devidos cuidados, cai. Então, a queda se torna assunto comentado; sem causar drásticos cuidados, provoca risos, porque se diferencia do normal, do comum a todos, que é andar sem cair. Daí, os palhaços caírem tanto no picadeiro do circo... O fundamental da comédia é isso: a anormalidade contraposta à normalidade.
O significado do tombo que merece Gonzaga Rodrigues é aquele de tombamento, eventualmente oficializado pelo IPHAEP; possivelmente proposto pela API, pelos jornais onde ele se criou ou por aqueles que conviveram com ele, manuseando a linotipo, suas palavras de chumbo e fundição da linha-bloco; desde as máquinas de Padre Azevedo à sofisticação das notícias e crônicas digitalizadas. De modo que, assim, não é Gonzaga que tomba, mas que é tombado pelas suas crônicas e obras. Aliás, acervos de ilustres escritores paraibanos carecem mais de atenção nesse sentido. E, nesse sentido, prescrevo a vantagem do tombo.
Na verdade, Gonzaga, que o diga Martinho Moreira Franco, começamos a nos aproximar da idade das três pernas... Lembremo-nos do enigma da Esfinge de Tebas que, no vestíbulo da cidade, sentenciou para Édipo, sob a ameaça do “decifra-me ou devoro-te”, a adivinhação sobre nossas fases etárias: - Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite? A que Édipo respondeu: - O homem. Os álbuns retratam a criança que éramos, engatinhando de quatro patas; o idoso que seremos, andando de bengala. Doutro modo, como me explicou Humberto Mello, em qualquer hora do dia, com duas ou três pernas, quem se apressa, ao caminhar sem os devidos cuidados, cai. Então, a queda se torna assunto comentado; sem causar drásticos cuidados, provoca risos, porque se diferencia do normal, do comum a todos, que é andar sem cair. Daí, os palhaços caírem tanto no picadeiro do circo... O fundamental da comédia é isso: a anormalidade contraposta à normalidade.
O significado do tombo que merece Gonzaga Rodrigues é aquele de tombamento, eventualmente oficializado pelo IPHAEP; possivelmente proposto pela API, pelos jornais onde ele se criou ou por aqueles que conviveram com ele, manuseando a linotipo, suas palavras de chumbo e fundição da linha-bloco; desde as máquinas de Padre Azevedo à sofisticação das notícias e crônicas digitalizadas. De modo que, assim, não é Gonzaga que tomba, mas que é tombado pelas suas crônicas e obras. Aliás, acervos de ilustres escritores paraibanos carecem mais de atenção nesse sentido. E, nesse sentido, prescrevo a vantagem do tombo.