Inquietações de uma mulher
Esta noite resolvi falar de mim. Talvez porque seja início de junho e nesses últimos três anos essa época me transmite solidão. Explico: esse é o mês dos namorados e como não sei mais do amor, por esses tempos, meu coração é sem perspectivas de sonhos.
Meus sentimentos têm mudado muito desde que me divorciei. E eu que não sabia que podia mudar tanto assim. Será que fica bem falar tão abertamente de meu íntimo? Eu não queria me desfiar em imagens tão particulares, mas meus pensamentos e meu espírito me cercam sendo parte de meu coração.
E me defendo expondo meus motivos de porque me particularizo sem discrição. Eu tenho um nome e uma identidade. Meu nome é Teresa. O nome é de uma mulher cinquentona. Professora pública. O nome pode até parecer igual a muitos. Teresa Batista. Sim. Na base de tudo um desejo a definir – O amor ainda é possível? Essa questão se confunde com o que ocorre em mim quando digo quem sou. Deve ser pelo fato de eu querer dizer que sem amor não sou ninguém.
O nome de um amor. Quem não deseja ser amado?
Acho que esse deveria ser o início de minha fala: eu vivo para amar.
Motivos tenho para querer amor.
Esse amor que quero pode até ser o que vai me fazer ser mais indulgente comigo mesma.
Meus anos de mulher como um poema já passaram. Eu, bela e constituída de um universo feminino de vontades de usar um vestido lindo, de sair para um baile e encontrar-me com um príncipe encantado.
Eu podia dizer a esse amor que me defino por meio dos sonhos que escrevo. Eu, uma mulher de 52 anos com um espelho e reflexos de uma mulher sonhadora. Qual é o nome que dá a quem se debruça em sonhos e não podendo realizá-los escreve num sussurro de um conto?
O reflexo do espelho é meu retrato. Ele mostra um rosto que, de certa forma, conheço bem. Um rosto que corresponde a quem insiste em continuar seguindo.
Há muita gente que se contempla e vê que a vida ainda lhe pode ser uma história de amor?
Um dia meus filhos serão leitores de minha identidade. As meninas e meu rapaz lendo os significados que tenho em meu coração e em minha mente.
Eu tenho algumas raízes que me puxam para a felicidade. Elas se prendem em meus passos considerando que estou acompanhada de laços familiares e que não foram por acaso – eu amei muito um homem.
Foi no tempo de minha adolescência que casei. Eu tinha dezesseis anos. No correr dos anos até os trinta e seis eu construí uma narrativa com o pai de meus filhos. Mas acabou. Fim.
Nas inquietações de uma mulher, a história de um antigo romance pode ter momentos alegres e outros que não deseja recordar.
Estimo quem tem um novo começo.
É como quem sabe que os dias são diferentes.
Asseguro que muitas vezes tenho vontade de ficar sozinha, sem o ritmo das palavras que correm dentro de mim. Agregam-se a elas os rostos dos netos que tenho. E fluem em risos infantis somando-se à história de uma brasileira nordestina ainda em cenário de leitura da palavra amor.