Como todas as quintas-feiras, Magda acordou, banhou-se e vestiu-se com esmero. Prendeu os longos cabelos com uma fita de veludo, fez uma maquiagem leve e saiu. Já estava na porta do elevador quando se lembrou dos bombons que havia deixado sobre a mesa. Voltou e pegou três ou quatro, como de costume. Ao passar pela portaria do elegante edifício onde morava, recebeu o sorriso de seu Francisco, o simpático porteiro, seu admirador incondicional. Atravessou a rua e se dirigiu ao ponto de táxi. O motorista era um homem grisalho, aparentando uns 60 anos, como o pai dela. Magda acomodou-se e puxou conversa com ele. Sempre procurava conversar com os motoristas para ver se descobria alguma coisa sobre seu pai. Soubera que ele também era motorista de táxi, apesar de ter outra profissão. Quando desceu, no centro da cidade, pagou a corrida, deixando uma boa gorjeta e ofereceu um bombom ao motorista, que lhe agradeceu com um sorriso.
Às nove horas em ponto ela tocou a campainha do consultório médico. A secretária do doutor Steve veio abrir a porta com o mesmo sorriso de sempre.
- Bom dia Magda, você chegou cedo hoje.
- É, cedo demais, o trânsito hoje estava bom. Vou ter que esperar uma meia hora!
Pegou uma revista e tentou passar o tempo. Não conseguia se concentrar. Desde que resolvera procurar o analista, ela não pensava em mais nada que não fosse despejar toda a sua história de sofrimento e mágoa.
Meia hora depois o doutor Steve abriu a porta e levou-a pela mão até o confortável sofá de couro que estava na outra extremidade da sala.
- Onde paramos Magda? - lhe perguntou com uma voz muito suave, mas firme.
- Eu ia começar a lhe contar como descobri a rejeição que meu pai sente por mim.
Minha mãe chegou do médico e foi lhe dar a notícia de sua gravidez. Esperava que ele se alegrasse como ela, mas a sua reação foi a pior possível.
- Não quero saber de filho. Não estou preparado para dividir nada com ninguém. Faça um aborto - lhe disse.
- Jamais faria uma coisa dessas - respondeu-lhe minha mãe. Eu não vou deixar de ter o meu bebê só porque você é um egoísta que só pensa em você mesmo.
Ele deu-lhe uma bofetada que a fez cair no chão, mas ela não desistiu.
- Saia da minha vida - lhe disse - eu vou ter o meu filho com ou sem o seu consentimento. Você pode sair desta casa imediatamente. Eu já estou decidida.
Ele bateu a porta e nunca mais apareceu. Sei que minha mãe passou muitas dificuldades para me criar, mas eu nunca a perdoei por tê-lo mandado embora, o que me fora contado pela filha de uma vizinha, quando eu tinha apenas 10 anos. Só há poucos anos ela me contou essa história. Imagino o quanto a fiz sofrer e quero me redimir. Quero que ela saiba que eu a compreendo e que faria a mesma coisa que ela fez, se estivesse na mesma situação. Passei todos estes anos remoendo esse sofrimento. Só agora tive condições de fazer uma terapia para ver se consigo aliviar o meu coração. Agora quero achar meu pai. Não sei se para puni-lo ou para fazê-lo me amar. Quero que ele saiba que eu sou uma mulher íntegra, que tenho uma profissão e que sou muito bem sucedida. Será que isso lhe vai interessar?
Os seus 55 minutos se esgotaram e ela deixou a sala do psiquiatra. Sempre que terminava a consulta ela ficava deprimida. Mexer nas suas feridas era sempre doloroso, mas era preciso. Muitas vezes chorava muito, outras vezes ficava com raiva de Steve como se transferisse o amor magoado que sentia pelo pai, para o médico. Saiu do consultório e resolveu dar uma passada no escritório, antes de voltar para casa. Estava de férias e não tinha muito o que fazer lá, mas isso a ajudaria a afastar os seus demônios por algumas horas.
Quando voltou para casa já estava anoitecendo. O trânsito estava engarrafado e ela demorou bastante para chegar em casa. Sentiu um grande alívio quando meteu a chave na porta. O rádio estava ligado na estação preferida da empregada. O repórter, com sua voz bem impostada dava as últimas notícias: “Mais um motorista de táxi foi encontrado morto. Não se sabe ainda a causa do óbito. A polícia supõe que tenha sido por envenenamento. A única pista encontrada foi um pedaço de um bombom, de marca bastante conhecida, que já está sendo analisado.
- Cuidado, papai. É melhor você mudar de profissão. Qualquer dia destes vai ser você! - disse Magda para si mesma.
Às nove horas em ponto ela tocou a campainha do consultório médico. A secretária do doutor Steve veio abrir a porta com o mesmo sorriso de sempre.
- Bom dia Magda, você chegou cedo hoje.
- É, cedo demais, o trânsito hoje estava bom. Vou ter que esperar uma meia hora!
Pegou uma revista e tentou passar o tempo. Não conseguia se concentrar. Desde que resolvera procurar o analista, ela não pensava em mais nada que não fosse despejar toda a sua história de sofrimento e mágoa.
Meia hora depois o doutor Steve abriu a porta e levou-a pela mão até o confortável sofá de couro que estava na outra extremidade da sala.
- Onde paramos Magda? - lhe perguntou com uma voz muito suave, mas firme.
- Eu ia começar a lhe contar como descobri a rejeição que meu pai sente por mim.
Minha mãe chegou do médico e foi lhe dar a notícia de sua gravidez. Esperava que ele se alegrasse como ela, mas a sua reação foi a pior possível.
- Não quero saber de filho. Não estou preparado para dividir nada com ninguém. Faça um aborto - lhe disse.
- Jamais faria uma coisa dessas - respondeu-lhe minha mãe. Eu não vou deixar de ter o meu bebê só porque você é um egoísta que só pensa em você mesmo.
Ele deu-lhe uma bofetada que a fez cair no chão, mas ela não desistiu.
- Saia da minha vida - lhe disse - eu vou ter o meu filho com ou sem o seu consentimento. Você pode sair desta casa imediatamente. Eu já estou decidida.
Ele bateu a porta e nunca mais apareceu. Sei que minha mãe passou muitas dificuldades para me criar, mas eu nunca a perdoei por tê-lo mandado embora, o que me fora contado pela filha de uma vizinha, quando eu tinha apenas 10 anos. Só há poucos anos ela me contou essa história. Imagino o quanto a fiz sofrer e quero me redimir. Quero que ela saiba que eu a compreendo e que faria a mesma coisa que ela fez, se estivesse na mesma situação. Passei todos estes anos remoendo esse sofrimento. Só agora tive condições de fazer uma terapia para ver se consigo aliviar o meu coração. Agora quero achar meu pai. Não sei se para puni-lo ou para fazê-lo me amar. Quero que ele saiba que eu sou uma mulher íntegra, que tenho uma profissão e que sou muito bem sucedida. Será que isso lhe vai interessar?
Os seus 55 minutos se esgotaram e ela deixou a sala do psiquiatra. Sempre que terminava a consulta ela ficava deprimida. Mexer nas suas feridas era sempre doloroso, mas era preciso. Muitas vezes chorava muito, outras vezes ficava com raiva de Steve como se transferisse o amor magoado que sentia pelo pai, para o médico. Saiu do consultório e resolveu dar uma passada no escritório, antes de voltar para casa. Estava de férias e não tinha muito o que fazer lá, mas isso a ajudaria a afastar os seus demônios por algumas horas.
Quando voltou para casa já estava anoitecendo. O trânsito estava engarrafado e ela demorou bastante para chegar em casa. Sentiu um grande alívio quando meteu a chave na porta. O rádio estava ligado na estação preferida da empregada. O repórter, com sua voz bem impostada dava as últimas notícias: “Mais um motorista de táxi foi encontrado morto. Não se sabe ainda a causa do óbito. A polícia supõe que tenha sido por envenenamento. A única pista encontrada foi um pedaço de um bombom, de marca bastante conhecida, que já está sendo analisado.
- Cuidado, papai. É melhor você mudar de profissão. Qualquer dia destes vai ser você! - disse Magda para si mesma.