A BOTIJA DA IMBURANA
Olhando pela janela dava pra ver o pé de Imburana, bonito, majestoso em plena seca, com seus galhos despidos de folhas, anunciando a temporada florida.
A imburana serve pra tudo: tomar banho com as cascas da imburana serve pra curar dor nas juntas e fraqueza das pernas. A casca também dá um xarope que é bom pra curar crupe, difruço, tosse de cachorro, cobreiro, impinge, pereba braba, empachamento, barriga farosa, dor no mucumbu e até vento caído.
Quando floresce enche o sertão de cheiro.
- Debaixo daquele pé de pau tem uma botija encantada. É só cavar que acha.
O menino ouvia aquilo todo dia, sempre que ia levar o almoço pra velhinha leprosa que vivia sozinha naquela casinha de taipa. Ela pegou a lepra quando ainda era mocinha nova. As pessoas tinham medo dela e então fizeram essa casinha pra ela morar. Tinha até um jardim e um cachorro. O pé de imburana ficava do lado e dava sombra de tarde. Esse menino era que levava o almoço dela, mas não conversava muito.
- Debaixo daquele pé de imburana tem tesouro. Só acha quem for corajoso.
O menino era corajoso. Não tinha medo de pegar lepra. Até gostava daquela velhinha e ficava brincando com o cachorro enquanto ela almoçava, devagar, em silêncio, até ela pedir a quartinha de água.
- Amanhã, quando trouxer o almoço eu te conto mais.
No outro dia não teve almoço. A velhinha tinha morrido. O menino chorou e o cachorro também chorou. A imburana começava a florir enchendo o sertão de cheiro. Tinha até imbu maduro. O menino lembrou-se da botija encantada e cavou debaixo do pé da imburana. Cavou, cavou, cavou. O cachorro também cavou, mas não encontraram o tesouro. O menino cavou mais, cavou até encontrar água, muita água. Era um olho d’água, borbulhando. O menino que estava chorando, lavou as lágrimas no olho d’água.
O menino então percebeu que tinha achado o tesouro, a botija encantada. Não existe tesouro maior do que esse: achar água no sertão.