“CARPE DIEM”NESTE FERIADO.

Hoje é feriado e amanheceu chovendo. Não é comum, como são os feriados, chover nesta época em Brasília. Antevéspera de junho é tempo de baixa temperatura, vento forte e frio, sol a pino, baixa umidade. Sol a pino e vento frio parecem-me bizarros, mas formam um paradoxo que só a natureza explica, assim como a razão por que hoje chove. À Natureza, então, o Planalto Central e seus habitantes agradecem. Ameniza-se assim a secura do ar. Na palidez da grama restaura-se o verde. Tremulando ao vento as flores promovem um festival de cores e as plantas se alegram com as folhas molhadas. Uma prévia da primavera em época junina que, exceto o frio, aqui mais parece Campina Grande ou Caruaru a caráter.

Mas esta chuva que veio pela madrugada e avançou pela manhã tapou a cara do sol. Deixou um véu embaçado, quase fúnebre, acolhendo o silêncio da cidade adormecida. Não se ouve barulho de carros, o som ruidoso das motos, as falas dos passantes, os latidos dos cães inquietos, risadas de bêbados nem gemidos dos mendigos. É feriado geral, mas não dia santo completo.

É um dia especial para ler, quando chove. Não encontro uma razão mais convincente para associar chuva e leitura que não seja uma acomodada preguiça numa hora prazerosa. Mario de Andrade, Cartas a Manuel Bandeira. Tenho este livro há muito tempo e só agora me disponho a lê-lo sequencialmente e na íntegra. Que involuntário desinteresse agora me surpreende com uma obra rara entre outras ainda não lidas. As Cartas de Mario de Andrade a Manuel Bandeira, que fazem parte de uma correspondência de cerca de 13 anos, trazem as observações e impressões do grande líder da mais revolucionária renovação em nossas letras, deixando no volume valioso testemunho que se torna um dos melhores subsídios para a História do Modernismo no Brasil. Eu, que sempre gostei de ler e escrever cartas, mergulhei-me; não na chuva, que até já passou, mas na correspondência epistolar entre os dois poetas. Empolgado, esqueci-me do feriado. Nem vi a banda, ou melhor, a chuva passar. O primeiro e segundo parágrafos desta crônica vieram-me sem um propósito definido, como a chuva inesperada. Este, o terceiro e conclusivo, deveu-se a Mario e Bandeira e a correspondência entre ambos. O feriado já está quase pela metade. O livro, não. Mas vou ler tudo, se possível. E como já não é tempo de cartas, depois escreverei sobre o que li em forma de crônica.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 30/05/2013
Reeditado em 30/05/2013
Código do texto: T4316805
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