Os compadres

Os compadres

Os compadres se abraçaram ruidosamente. Pudera, fora um pleito disputadíssimo, conquistado alma a alma. Aquela reviravolta no Distrito de Antão, coisa de mestre! Raposa ladina, ladrona, furando pelos fundos, deixando a cachorrada boquiaberta, dentes arreganhados, vigiando o vento, os votos caindo, um a um, no embornal do compadre!

Os compadres se assentaram languidamente. O anfitrião gritou pelo Neguim, mandou buscar, na despensa, a garrafa, aquela com tampa de buriti, que costuma ficar em cima do pilão, reservada para ocasiões especiais, como esta, em que se vai decidir o futuro, tratar de preservar o “mandario”, não permitir que cachorro alheio venha, novamente, caçar os paturebas de nossas cercanias, providenciar, para daqui uns tempos, pleito, sem o açodamento deste que passou!

Os compadres decidiram pachorramente. As obras ficariam com ele. O primo. Já mostrou competência, foi dele a idéia do galinheiro de Antão! Na delegacia, se encosta o tio, caso preciso de força, já está acostumado a tocar grileiro neste mundo de meu Deus. O filho, ainda está meio cru, fica mais perto, para engrossar o couro. A esposa, não. Melhor mesmo ficar na retaguarda, cuidando de amparar aquela corja de pedinchão, os apadrinhamentos, as rezas, as orações... é mais seguro.

Os compadres se despediram calorosamente. Só então, no sossego do quarto, a esposa perguntou: “e o Joaquim, está voltando da Capital com diploma de advogado? A Mariinha já concordou, faz até gosto, está muito atarefada lá na coletoria, precisando de homem ...”.

O marido respirou fundo. Tempo que precisou para maquinar resposta à mulher, que o olhava perscrutora.

O marido, olhou para um lado, para outro, como se temesse alguém ouvir e, bem baixinho, segredou à mulher: “... deixe a poeira baixar... já já arrumo o Joaquim... apareceu, lá na Capital, um tal de Nepotismo, um invencionador de besteiras, coisas de desocupado, invejoso, intrigante, dizendo não poder empregar irmão da esposa...”

A esposa emburrou. Virou para o canto.

O marido cobriu a cabeça e falou com seus botões: “... vê lá ... vou tratar cascavel... esse desavergonhado tomou a Dita do compadre Zaqueu ...!”

João dos Santos Leite

Psicólogo CRP 04-2674

Joao dos Santos Leite
Enviado por Joao dos Santos Leite em 30/05/2013
Reeditado em 28/01/2021
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